Joinville inaugura unidade inédita que converte resíduos sólidos em energia elétrica

Joinville consolida-se como referência nacional em sustentabilidade e inovação no saneamento com a inauguração da Unidade de Recuperação Energética (URE Joinville Ambiental). A estrutura é uma das mais modernas da América Latina e foi projetada para transformar resíduos sólidos urbanos em energia elétrica, reduzindo emissões e ampliando a vida útil do aterro municipal. Trata-se de um passo histórico para o Brasil rumo a uma economia mais circular e resiliente.

A nova URE representa um marco para o setor de saneamento por demonstrar, na prática, que os resíduos sólidos podem deixar de ser um passivo ambiental para se tornar uma fonte limpa de energia. Esse modelo reforça o papel estratégico das companhias de saneamento na transição para uma gestão integrada de água, esgoto, resíduos e energia.

Estrutura moderna e tecnologia de ponta

Instalada em uma área de 7 mil m² e com investimento de R$ 127 milhões, a URE Joinville Ambiental tem capacidade para processar até 110 toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos, o equivalente a 25% de todo o lixo gerado na cidade.

No local, o material que antes era destinado ao aterro sanitário é transformado em um composto biossintético, utilizado para gerar energia elétrica. O processo utiliza tecnologia nacional e apresenta alto desempenho ambiental: a emissão de gases de efeito estufa é até oito vezes menor do que nas soluções convencionais. Além disso, a operação aumenta em 25% a vida útil do aterro municipal, reduzindo custos e impactos ambientais de longo prazo.

Integração entre saneamento, energia e economia circular

A unidade joinvilense é um exemplo de como a gestão de resíduos sólidos pode ser integrada ao saneamento de forma inovadora e sustentável. Ao valorizar o lixo urbano como recurso energético, o município amplia sua autonomia, reduz a dependência de aterros e impulsiona a economia circular.

Além de gerar energia, a URE contribui diretamente para a preservação ambiental, promove educação ambiental e fortalece o papel do saneamento na mitigação das mudanças climáticas. Essa integração entre eficiência energética e gestão de resíduos é fundamental para o cumprimento das metas nacionais de universalização e sustentabilidade estabelecidas pelo Novo Marco do Saneamento.

Outros projetos de URE em operação ou desenvolvimento no Brasil

Embora Joinville seja pioneira na América Latina com tecnologia 100% nacional, outras cidades brasileiras também avançam em projetos de resíduos sólidos voltados à recuperação energética. Esses investimentos apontam para uma nova era na gestão ambiental urbana.

  • Barueri (SP): reconhecida como a primeira URE da América Latina em escala industrial, processará cerca de 300 mil toneladas de resíduos sólidos por ano, gerando 20 MW de energia elétrica, suficiente para abastecer 320 mil pessoas.
  • Mauá (SP): possui projeto licenciado para implantação de planta de recuperação energética com capacidade estimada de 80 MW.
  • Consimares (Nova Odessa – SP): consórcio intermunicipal que desenvolve estudos para implantação de uma URE voltada à destinação de resíduos sólidos urbanos de várias cidades do interior paulista.
  • Caju (RJ): projeto carioca com previsão de gerar 31 MW de energia, tratando cerca de 500 mil toneladas de resíduos por ano.
  • Distrito Federal (Brasília): estudos em andamento para implantação de URE no aterro de Samambaia, integrando energia e compostagem no plano distrital de gestão de resíduos sólidos.
  • Baixada Santista (SP): projeto em licenciamento para tratar o excedente regional e gerar aproximadamente 38 MW de energia elétrica.

A expansão dessas iniciativas indica um novo paradigma para o saneamento brasileiro, em que os resíduos sólidos passam a ocupar posição central nas estratégias de sustentabilidade, eficiência energética e inovação tecnológica.

Benefícios ambientais e econômicos

Os ganhos obtidos com o aproveitamento energético dos resíduos sólidos são amplos. Além da redução de volumes encaminhados a aterros, há menor emissão de metano, aumento da eficiência energética municipal, geração de empregos técnicos e novas oportunidades de investimento verde.

Projetos como o de Joinville mostram que é possível alinhar crescimento econômico, responsabilidade ambiental e educação comunitária. O modelo ainda abre espaço para a formação de parcerias público-privadas e o uso de créditos de carbono, tornando-se financeiramente atrativo para concessionárias e empresas de saneamento.

Desafios e perspectivas

Apesar dos avanços, o Brasil ainda precisa superar desafios regulatórios e de financiamento para expandir a adoção de UREs. O alto custo inicial e a necessidade de segurança jurídica nos contratos são fatores que exigem planejamento integrado entre municípios, companhias de saneamento e agências reguladoras.

Por outro lado, programas como o Metano Zero e políticas de incentivo à energia renovável apontam para um futuro promissor. À medida que mais cidades adotam soluções semelhantes, o país avança rumo a uma gestão mais eficiente dos resíduos sólidos e a um modelo de saneamento verdadeiramente sustentável.

Conclusão

A experiência de Joinville comprova que investir em tecnologia e inovação é o caminho para transformar os resíduos sólidos em um ativo estratégico do saneamento brasileiro. A cidade inaugura um novo ciclo, no qual sustentabilidade, energia e gestão pública caminham juntas.

Com redução expressiva de emissões, ampliação da vida útil do aterro e geração de energia limpa, Joinville mostra que o futuro do saneamento já começou — e ele passa, inevitavelmente, pela valorização energética dos resíduos urbanos.

Fontes