Gestão de resíduos sólidos como pilar da sustentabilidade
A gestão eficiente dos resíduos sólidos é hoje um dos maiores desafios ambientais do país. O crescimento urbano acelerado e a falta de estrutura adequada para o tratamento e a destinação final têm agravado problemas sociais, econômicos e ambientais nas cidades brasileiras. Nesse contexto, a iniciativa de Belém, no Pará, ao inaugurar o primeiro sistema público de compostagem com participação de catadores, representa um marco importante na busca por soluções sustentáveis e inclusivas.
A compostagem surge como alternativa estratégica, pois permite transformar resíduos orgânicos — que representam até 60% do lixo urbano — em adubo de alto valor agregado. Assim, reduz-se o volume de material enviado a aterros sanitários, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa e promovendo a economia circular.
Compostagem pública: uma solução de impacto para os resíduos sólidos
O novo sistema público de compostagem implantado em Belém integra tecnologia, gestão e inclusão social. O projeto foi desenvolvido em parceria entre o poder público e organizações de catadores, demonstrando que a sustentabilidade pode caminhar lado a lado com a geração de renda.
O sistema utiliza equipamentos modernos, como tambores rotativos metálicos que aceleram o processo de decomposição da matéria orgânica. Esse método reduz significativamente o tempo de compostagem, melhora o controle de temperatura e garante maior eficiência no processo biológico. O resultado é um composto orgânico de alta qualidade, pronto para ser utilizado em áreas verdes, hortas urbanas e programas de reflorestamento.
Além dos benefícios ambientais, a iniciativa reduz custos operacionais com transporte e disposição final de resíduos, aliviando a pressão sobre o sistema de limpeza urbana e sobre os aterros sanitários.
Inclusão dos catadores na gestão de resíduos sólidos
Um dos aspectos mais inovadores do sistema de Belém é a integração dos catadores no processo de gestão dos resíduos sólidos. Historicamente marginalizados, esses trabalhadores passam a ter papel central na triagem e na operação do sistema de compostagem.
A valorização dos catadores contribui para a formalização do trabalho, a melhoria das condições de renda e o reconhecimento social. Essa abordagem está alinhada à Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), que estabelece como diretriz a inclusão social e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
Ao incorporar os catadores na gestão pública, Belém cria um modelo replicável que pode inspirar outras cidades a adotar políticas mais inclusivas e sustentáveis.
Economia circular e redução de impactos ambientais
O sistema de compostagem de Belém reforça a transição para um modelo de economia circular. Ao reaproveitar os resíduos orgânicos e reinserir o composto produzido na cadeia produtiva, o município fecha o ciclo dos resíduos sólidos e reduz significativamente os impactos ambientais.
Principais benefícios ambientais
- Diminuição da emissão de metano em aterros sanitários;
- Sequestro de carbono no solo por meio da aplicação do composto;
- Melhoria da fertilidade natural de áreas degradadas;
- Fortalecimento da agricultura urbana e periurbana.
Além disso, a experiência de Belém pode auxiliar o Brasil a cumprir metas de redução de emissões de gases de efeito estufa assumidas no Acordo de Paris e reforçar a importância do saneamento ambiental como eixo central do desenvolvimento sustentável.
Desafios para ampliação e replicação
Embora o projeto represente um avanço, a ampliação da compostagem pública exige planejamento e integração entre diferentes atores. A segregação na origem dos resíduos sólidos é essencial para o sucesso do sistema. Sem a separação adequada dos resíduos orgânicos, a eficiência do processo pode ser comprometida.
Também é necessário investir em campanhas de educação ambiental para conscientizar a população sobre o descarte correto. O envolvimento das comunidades e o fortalecimento das cooperativas de catadores são pilares fundamentais para garantir a continuidade e a sustentabilidade do projeto.
Além disso, o financiamento e a manutenção técnica dos equipamentos são fatores críticos. O uso de tecnologias simples, robustas e de baixo custo pode favorecer a expansão do modelo em outras cidades brasileiras.
Impactos sociais e econômicos dos resíduos sólidos tratados
O tratamento adequado dos resíduos sólidos não apenas protege o meio ambiente, mas também cria oportunidades econômicas. Estima-se que, no Brasil, apenas 1% dos resíduos orgânicos urbanos são compostados. Se ampliado, o reaproveitamento poderia gerar milhares de empregos e movimentar a cadeia de produção de adubos orgânicos e biofertilizantes.
Em Belém, o sistema público de compostagem já representa uma nova fonte de renda para cooperativas e catadores, além de estimular a criação de negócios locais voltados à economia verde. A produção de composto orgânico pode abastecer hortas comunitárias, parques e jardins públicos, promovendo também a segurança alimentar e o bem-estar urbano.
Resíduos sólidos e o futuro da gestão ambiental urbana
A experiência de Belém mostra que os resíduos sólidos podem deixar de ser um problema e se tornar um recurso. A compostagem pública é um exemplo prático de inovação aplicada à gestão urbana, onde tecnologia, inclusão e sustentabilidade convergem em benefício da sociedade.
Ao investir em políticas públicas integradas, o município reforça o papel do saneamento como ferramenta de transformação ambiental e social. O modelo pode inspirar outras capitais brasileiras a adotar soluções semelhantes, fortalecendo a agenda de sustentabilidade e ampliando o alcance da economia circular no país.



