A gestão de resíduos sólidos é um tema central para o saneamento urbano, sobretudo na Bahia, onde recentes dados apontam que apenas 52% do lixo gerado recebe tratamento adequado. Profissionais do saneamento precisam conhecer os entraves, impactos e soluções possíveis para que a qualidade de vida, saúde pública e meio ambiente não sejam comprometidos.
Situação atual na Bahia
- Dos 417 municípios baianos, só 79 descartam os resíduos de forma correta. Ou seja, menos de 2 em cada 10 municípios têm tratamento adequado.
- Enquanto a média nacional aponta que cerca de 82% do lixo urbano tem alguma forma de destinação em aterros sanitários, a Bahia está bem abaixo desse percentual.
- A Bahia enfrenta deficiências em coleta seletiva, tratamento adequado e em destinação final ambientalmente correta de resíduos sólidos urbanos (RSU).
Principais desafios enfrentados
Para profissionais do saneamento, identificar claramente os obstáculos é fundamental. Seguem os principais:
- Infraestrutura insuficiente: Muitos municípios não possuem aterros sanitários ou instalações adequadas para disposição final de resíduos sólidos. A existência de lixões e aterros inapropriados é ainda uma realidade.
- Capacidade técnica e institucional limitada: Falta de mão-de-obra especializada, planejamento municipal pouco estruturado, baixos orçamentos e pouca articulação entre órgãos públicos.
- Baixa cobertura de tratamento: Mesmo quando há coleta, nem sempre o tratamento dos resíduos sólidos é adequado. Processos como reciclagem, compostagem ou geração de energia a partir de resíduos sólidos não estão suficientemente difundidos.
- Coleta seletiva incipiente: A separação na fonte (resíduos recicláveis vs orgânicos vs rejeitos) ainda é pouco presente, especialmente em municípios menores e áreas rurais. Isso eleva os custos operacionais e dificulta destinação e reaproveitamento.
- Financiamento e sustentabilidade econômica: Recursos públicos limitados, dependência de repasses, falta de modelos de cobrança efetiva ou tarifas justas que garantam manutenção, operação e modernização da gestão de resíduos sólidos.
- Legislação, monitoramento e controle social: Apesar da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) instituída em 2010, muitas metas não foram alcançadas ou estão atrasadas. A fiscalização, transparência e participação da sociedade civil seguem como pontos frágeis.
Impactos negativos da má gestão de resíduos sólidos
Se a gestão de resíduos sólidos for inadequada, os impactos são múltiplos:
- Ambientais: contaminação de solo, água (lençóis freáticos, rios), emissão de gases de efeito estufa, produção excessiva de chorume.
- Sanitários e de saúde pública: doenças transmitidas por vetores, proliferação de pragas, maus odores, poluição.
- Sociais e econômicos: custo elevado para reparar danos, perdas de produtividade, aumento de gastos públicos em saúde, degradação de áreas urbanas que afetam qualidade de vida.
Possíveis soluções e boas práticas
Para enfrentar os desafios, recomendo aos profissionais do saneamento as seguintes ações:
- Planejamento integrado e regionalizado Estabelecer consórcios entre municípios para compartilhamento de aterros, cooperação técnica, compra de equipamentos e otimização logística.
- Fortalecimento da PNRS e cumprimento de metas Revisar os planos municipais/estaduais de resíduos sólidos com prazos definidos para implantação de coleta seletiva, tratamento e eliminação de lixões. Metas claras ajudam no monitoramento.
- Investimento em infraestrutura Construção ou adequação de aterros sanitários, instalações de triagem, compostagem e unidades de reciclagem. Também considerar tecnologias para aproveitamento energético, quando ambientalmente viável.
- Educação ambiental e engajamento da comunidade Conscientizar população sobre separação correta de resíduos sólidos, reutilização, redução, compostagem doméstica. Participação social pode pressionar e melhorar resultados.
- Modelos econômicos sustentáveis Tarifas ou taxas que reflitam custo real da coleta e tratamento, incentivos fiscais para reciclagem, parcerias público-privadas, recuperação de material reciclável como fonte de receita.
- Monitoramento, transparência e controle social Dados consistentes sobre geração, tratamento, disposição final de resíduos sólidos, relatórios públicos regulares, participação da sociedade civil, auditorias e fiscalização eficaz.
Conclusão
A Bahia enfrenta déficits significativos na gestão de resíduos sólidos: tratamento insuficiente, infraestrutura limitada, coleta seletiva pouco difundida e desafios econômicos e institucionais. Contudo, há caminhos viáveis para melhorar: com articulação entre municípios, investimento em infraestrutura, educação ambiental e modelos de financiamento adequados.
Profissionais do saneamento têm papel estratégico para liderar essas mudanças. Se as soluções forem colocadas em prática, a Bahia poderá reduzir impactos ambientais, melhorar a saúde pública e avançar rumo a uma gestão de resíduos sólidos que atenda às necessidades reais da população.
FONTES
- Jornal A Tarde – Bahia ainda enfrenta desafios na gestão de resíduos urbanos
- Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Desafios da Implementação do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos em Maragogipe-BA
- ResearchGate – Desafios da coleta seletiva de resíduos sólidos em condomínios residenciais em Salvador-Bahia
- IPEA – Resíduos sólidos urbanos no Brasil: desafios tecnológicos, políticos e econômicos
- BNDES – Diagnóstico do setor de resíduos sólidos urbanos e o desafio do encerramento dos lixões



