Por que COP 30 e Saneamento estarão no centro do debate
Realizada em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro de 2025, a COP 30 será a conferência que consolida um movimento de execução: menos promessas vagas, mais implementação mensurável em setores críticos – e o saneamento está entre eles. A escolha da Amazônia como sede pressiona decisões sobre água, esgoto, drenagem e resíduos numa região onde clima, floresta e cidades se cruzam diariamente. A localização oficial é o Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, na chamada “Blue Zone” do evento.
Além do simbolismo, COP 30 é tecnicamente decisiva. É o ciclo em que países apresentarão NDCs 3.0 (novas Contribuições Nacionalmente Determinadas), guiadas pelos resultados do primeiro Global Stocktake e com forte potencial para incluir metas específicas de água e saneamento. Em termos práticos, “COP 30 e Saneamento” caminham juntos porque perdas de água, eficiência energética em sistemas de tratamento, metano de esgoto e de resíduos e soluções baseadas na natureza para drenagem urbana são linhas diretas de mitigação e adaptação.
A Presidência brasileira estruturou Dias Temáticos alinhados a seis eixos, incluindo Cidades, Infraestrutura e Água, criando um corredor natural para que utilidades e reguladores posicionem projetos e metas. Na mesma toada, a Agenda de Ação aposta em espaços de co-criação como o “Bairro do Mutirão para Cidades, Água e Infraestrutura”, para costurar soluções entre governos, empresas e sociedade. “COP 30 e Saneamento” ganha, assim, palco, linguagem e audiência.
O que vai acontecer, na prática, que impacta diretamente o saneamento
1) NDCs 3.0 com água e esgoto no coração das metas
Em 2025, as Partes devem registrar NDCs novas e mais ambiciosas, informadas pelo Global Stocktake. O setor pode aparecer explicitamente: metas de perdas (<25%), energia específica (kWh/m³), reúso (%), tratamento terciário (biológico/remoção de N/P), lodo com aproveitamento energético (%) e metano evitado. O diálogo “água nas NDCs” já está na programação de pavilhões técnicos e side events, colocando “COP 30 e Saneamento” como pauta transversal.
Por que importa: metas claras no texto das NDCs facilitam acesso a financiamento climático e aos novos mecanismos de cooperação (Artigo 6), ampliando o leque de fontes para CAPEX e OPEX verdes.
2) Global Goal on Adaptation (GGA) e indicadores de água e saneamento
Após o marco de estruturação do GGA em COPs anteriores, espera-se avanço na mensuração do progresso. Estão programados debates específicos sobre indicadores de água e saneamento sob o GGA, com foco em uma lista robusta e equilibrada (sem “silos”) e em métricas comparáveis – cobertura, resiliência de mananciais, segurança hídrica, qualidade e continuidade dos serviços, perdas, atendimento a populações vulneráveis. Isso coloca “COP 30 e Saneamento” como eixo de adaptação verificável.
Por que importa: medir é o que habilita financiar. Indicadores amadurecidos permitem precificar risco, embasar tarifas sustentáveis e embalar projetos bancáveis de infraestrutura adaptativa.
3) Artigo 6 e o crédito de carbono: resíduos e, em breve, esgoto
O novo Mecanismo de Creditação do Acordo de Paris (Art. 6.4) aprovou a primeira metodologia para aterros sanitários, abrindo caminho para que projetos de captura e queima/uso de metano gerem créditos alinhados ao Acordo. A expectativa é que metodologias para metano de esgoto evoluam na trilha de aterros. “COP 30 e Saneamento” passa, então, a significar receita climática para utilities que modernizarem ETEs e lodos.
Por que importa: metano é um gás de vida curta e alto impacto. Reduções rápidas no lixo e no esgoto têm custo-efetividade comprovada e geram co-benefícios (odor, vetores, energia e bioprodutos).
4) Pavilhões, hubs e o “mutirão” da água
O Water for Climate Pavilion chega a Belém com agenda intensa, incluindo sessões sobre indicadores de água e saneamento no GGA, integração com cidades e infraestrutura e apoio a NDCs e NAPs. A iniciativa se integra ao Bairro do Mutirão para Cidades, Água e Infraestrutura na Blue Zone, em parceria com ministérios brasileiros e coalizões internacionais. O resultado é um arco que liga técnica, políticas e financiamento – exatamente onde “COP 30 e Saneamento” precisa estar.
Por que importa: pavilhões e hubs funcionam como mercado de soluções. É onde utilities encontram padrões, parceiros, financiadores e casos práticos para levar para casa contratos e planos.
5) Ação doméstica do Brasil com foco hídrico e urbano
O Brasil vem aterrando a COP com iniciativas preparatórias: “Caminhos das Águas rumo à COP30” e planos de aceleração ligados à segurança hídrica, além de um programa do Ministério das Cidades para fortalecer adaptação urbana — escalável para municípios com desafios em drenagem, alagamentos e abastecimento. Em síntese, “COP 30 e Saneamento” também é política pública de dentro para fora.
Dados que moldam decisões de saneamento em 2025
- As emissões globais atingiram 57,1 GtCO₂e em 2023, exigindo cortes de 42% até 2030 e 57% até 2035 nas novas NDCs, segundo o UNEP. O recado para “COP 30 e Saneamento” é cristalino: eficiência elétrica em ETA/EEE, perdas e metano precisam entrar nas metas setoriais.
- O setor de metano continua no foco: petróleo e gás respondem pela maior fatia, mas resíduos e águas residuárias somam um pacote altamente mitigável com tecnologias maduras e payback competitivo quando se capturam e valorizam biogás/biometano.
Onde “COP 30 e Saneamento” vai aparecer na agenda diária
- Calendário oficial e side events: a página do UNFCCC atualiza continuamente negociações e eventos paralelos; o SEORS permite filtrar por Água e Resíduos.
- Blue Zone (Belém / Hangar): centro das negociações e dos pavilhões técnicos. Local e datas oficiais: 10–21 de novembro de 2025.
- Dias Temáticos com Cidades, Infraestrutura e Água reforçam a vitrine para perdas, drenagem, reuso, NBS, resiliência urbana e financiamento.
Oportunidades concretas para companhias e reguladores
Mitigação imediata (metano e energia)
- ETE com captura e uso de biogás (geração elétrica ou biometano), modernização de digestores e queima controlada — com olhar para elegibilidade futura em Art. 6.4 e co-benefícios operacionais.
- Aterros e estações de transferência com monitoramento de fugas, drenagem de biogás, queima em flares certificados e, quando viável, geração. “COP 30 e Saneamento” torna esse pipeline monetizável.
- Eficiência energética: bombas de alta eficiência, VFDs, automação e otimização de ar difuso em ETEs; metas de kWh/m³ amarradas às NDCs 3.0.
Adaptação e segurança hídrica
- Redução de perdas e controle ativo de vazamentos com metas anuais escalonadas (ILP, ILI), priorizando distritos de medição e pressão inteligente.
- Drenagem urbana baseada na natureza (bacias de retenção, jardins de chuva, solos permeáveis) para moderar picos de cheias e ilhas de calor.
- Proteção de mananciais e reflorestamento ciliar com metas de qualidade de água (turbidez, cor verdadeira, demanda de coagulante) vinculadas ao GGA.
Governança e financiamento
- Inserir metas setoriais nas NDCs 3.0 estaduais/municipais e planos de adaptação locais (NAP-locais), casando com indicadores que os pavilhões estão refinando.
- Estruturar projetos bancáveis para fundos de adaptação e clima, com MRV desde o dia zero (linhas de base, séries históricas, protocolos).
- Preparar-se para Art. 6: mapeamento de ativos com potencial de crédito, inventários de metano em ETEs/aterros, adicionalidade e salvaguardas.
Check-list prático para navegar “COP 30 e Saneamento”
Antes da COP
- Diagnóstico: perdas, kWh/m³, % lodo valorizado, metano estimado (flares/uso), % reúso, hotspots de alagamento.
- Carteira de projetos: três prontos para financiamento (um de mitigação rápida, um de adaptação urbana, um de eficiência).
- Indicadores-alvo: defina números que dialoguem com GGA e NDCs 3.0 (ex.: perdas −2 p.p./ano; +20% de lodo valorizado).
Durante a COP
- Frequentar pavilhões certos (Water for Climate, Resilience Hub) e Dias Temáticos de Cidades/Água; marcar reuniões com bancos e cooperação.
- Caçar metodologias: acompanhar Art. 6 (aterros já aprovados; rastrear avanços para esgoto).
- Tomar notas de MRV exigidas por financiadores e plataformas de crédito.
Depois da COP
- Atualizar metas locais com base nas conclusões (NDC 3.0) e no pacote de indicadores do GGA.
- Submeter projetos a chamadas de financiamento e, quando couber, preparar design de crédito de carbono (baseline, adicionalidade, salvaguardas sociais).
- Comunicar resultados a reguladores e sociedade, convertendo compromissos em cronogramas e contratos.
Perguntas incômodas que “COP 30 e Saneamento” coloca à mesa
- As metas de perdas e energia por m³ das companhias estão compatíveis com a ambição exigida para 2030/2035 nas NDCs 3.0?
- Há inventário de metano em ETEs e aterros capaz de sustentar um projeto Art. 6 em dois anos?
- O plano de drenagem urbana incorpora soluções baseadas na natureza com métricas de pico de cheia e temperatura de superfície?
- O projeto de lodo sai do papel (secagem, digestão, coprocessamento, biometano) com um modelo de negócio estável?
- Os indicadores de resiliência hídrica que serão discutidos no GGA estão incorporados nos contratos de programa e fiscalização regulatória?
Logística e agenda de referência (essencial para planejamento)
- Local oficial: Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia (Blue Zone).
- Datas: 10 a 21 de novembro de 2025.
- Estrutura da agenda: páginas do UNFCCC e da Presidência brasileira trazem programação, side events e eventos de NDC. “COP 30 e Saneamento” terá presença explícita em sessões de água, cidades e infraestrutura.
Conclusão: o recado para quem decide
“COP 30 e Saneamento” não é um slogan; é um teste de maturidade. O setor dispõe de tecnologias prontas (redução de perdas, eficiência elétrica, reatores anaeróbios com aproveitamento de biogás, reúso, NBS) e de janelas regulatórias e financeiras inéditas. Em Belém, o debate será como medir, financiar e escalar. Quem chegar com indicadores, linhas de base e projetos estruturados volta com parcerias, recursos e prazos.
Há, portanto, uma encruzilhada: ou o saneamento assume o protagonismo climático — reduzindo metano, blindando mananciais, preparando cidades para extremos —, ou perde a chance de ancorar a transição adaptativa de que o Brasil precisa. O tempo político, técnico e financeiro converge em 2025. COP 30 e Saneamento deve significar não apenas presença, mas entrega.
Fontes (com links clicáveis)
- UNFCCC – COP 30 Information for Participants
- UNFCCC – NDCs 3.0
- UNFCCC – Global Goal on Adaptation
- Water for Climate Pavilion – programação COP30
- Water for Climate Pavilion – Bairro do Mutirão
- Climate Champions – Dias Temáticos COP30
- UNFCCC – Art. 6.4 (metodologia aterros e metano)
- IETA – Papel dos mercados de carbono na COP30
- UNEP – Emissions Gap Report 2024
- IEA – Global Methane Tracker 2024
- MIDR – Caminhos das Águas rumo à COP30
- COP30.br – Agenda de Ação



