A realização da COP30 em Belém está servindo como um marco decisivo para acelerar a universalização do saneamento na Amazônia. A região Norte do país, historicamente com os piores indicadores de água e esgoto, enfrenta desafios únicos: áreas de difícil acesso, comunidades ribeirinhas, habitações em palafitas e grandes distâncias que encarecem obras e operações.
Nos últimos meses, importantes avanços foram registrados. Em Belém e municípios da Região Metropolitana, a nova concessionária iniciou a operação plena, acompanhada de obras estruturantes de macrodrenagem e expansão de redes de esgoto. Intervenções em canais estratégicos da cidade estão previstas para beneficiar mais de meio milhão de pessoas, reduzindo alagamentos históricos e trazendo qualidade de vida para a população.
O Estado do Pará estruturou uma concessão regional que reúne mais de cem municípios sob um único contrato, prevendo quase 19 bilhões de reais em investimentos ao longo de quatro décadas. Esse modelo de escala permite acelerar a implantação de sistemas de água e esgoto, além de dar previsibilidade regulatória e financeira para alcançar as metas de universalização.
Há também casos emblemáticos como o de Barcarena, que estabeleceu a meta de atingir 99% de cobertura de água e 90% de esgoto já em 2025, quase dez anos antes do prazo previsto no Marco Legal. Em Manaus, programas de tarifa social, como a Tarifa 10, e soluções técnicas para áreas de palafita seguem como referência para inclusão social e engenharia adaptada.
A COP30 tem funcionado como catalisador para que essas iniciativas saiam do papel. O evento internacional trouxe prazos mais curtos, pressão positiva para entregas e atraiu investimentos de grande porte, combinando recursos públicos e privados. A conferência também chamou atenção global para a urgência de universalizar o saneamento em um território estratégico para o clima e para a biodiversidade mundial.
Universalizar, no entanto, vai muito além de inaugurar obras. É preciso garantir continuidade, qualidade da água distribuída, eficiência no tratamento de esgoto e sustentabilidade econômica das tarifas. A realidade amazônica exige soluções sob medida: redes elevadas em áreas alagáveis, estações compactas em comunidades isoladas, atendimento por sistemas condominiais e forte participação social no processo de implementação.
O desafio é transformar o impulso da COP30 em um legado duradouro. Com planejamento, fiscalização regulatória, engenharia inovadora e políticas de inclusão tarifária bem estruturadas, a Amazônia pode avançar rapidamente rumo ao cumprimento das metas do Marco Legal do Saneamento. O momento é de aproveitar a visibilidade internacional e consolidar investimentos que garantam saúde, dignidade e desenvolvimento sustentável para milhões de brasileiros que ainda aguardam por esse direito básico.



