Em um movimento relevante para o setor de saneamento, a CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) anunciou, durante a COP30, a emissão do primeiro título regional de resiliência na América Latina e no Caribe, no valor de US$ 100 milhões. A iniciativa foi desenvolvida em parceria com o UNDRR – Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres e tem implicações diretas para o saneamento, já que parte dos recursos será alocada para projetos de água e saneamento, drenagem e controle de inundações.
Para o público de profissionais do saneamento, essa notícia representa uma importante nova fonte de financiamento e um indicativo de mudança de foco: o saneamento deixa de ser visto apenas como serviço básico e passa a figurar como peça-chave da infraestrutura resiliente, especialmente diante das mudanças climáticas e dos riscos de desastres.
O que é o título de resiliência
O título de resiliência emitido pela CAF funciona como um instrumento de dívida que capta recursos no mercado de capitais para financiar infraestruturas críticas resistentes a riscos climáticos ou a desastres naturais. Os investidores aportam recursos que são aplicados em projetos capazes de manter a continuidade dos serviços essenciais — entre eles, o saneamento — mesmo durante eventos extremos.
Principais características
- Valor emitido: US$ 100 milhões;
- Região de aplicação: América Latina e Caribe, com primeiros projetos no Brasil;
- Setores elegíveis: água e saneamento, drenagem urbana, controle de inundações, gestão de resíduos, energia descentralizada, mobilidade segura e soluções baseadas na natureza;
- Critérios técnicos: redução de risco, capacidade de operação durante eventos extremos e tempo de recuperação otimizado.
Para profissionais do saneamento, isso significa que projetos de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e infraestrutura de saneamento em áreas vulneráveis podem se qualificar, desde que demonstrem componentes de resiliência.
Por que essa iniciativa importa para o saneamento
Reconhecimento da infraestrutura de saneamento como crítica
A inclusão formal do saneamento entre os setores elegíveis reforça a importância estratégica do serviço para a continuidade urbana. A iniciativa reconhece que o saneamento é um dos pilares da resiliência das cidades.
Expansão das fontes de financiamento
O saneamento, tradicionalmente dependente de orçamento público, passa a ter acesso a instrumentos de mercado. Isso pode ampliar a velocidade dos investimentos e destravar projetos represados.
Incentivo à adaptação climática
Os critérios exigem que o saneamento incorpore soluções de adaptação — como proteção a enchentes, redundâncias operacionais e soluções baseadas na natureza. Assim, sistemas de saneamento se tornam mais duradouros e eficientes.
Impacto direto na gestão e operação do saneamento
Empresas de saneamento, consultorias e gestores públicos precisarão incorporar avaliações de risco e planos de contingência nos projetos. Além disso, a governança dos serviços de saneamento passa a ser analisada com foco em transparência e capacidade de resposta.
Como viabilizar projetos de saneamento alinhados ao modelo
1. Diagnóstico de vulnerabilidade
É necessário mapear pontos frágeis do sistema de saneamento que possam falhar em desastres, como estações sujeitas a inundação ou redes expostas.
2. Projetos estruturados com foco em resiliência
Infraestruturas precisam prever redundâncias, proteção contra cheias, sistemas elevados, backup de energia e integração com drenagem urbana.
3. Monitoramento e recuperação
Planos de operação, indicadores de desempenho e estratégias de recuperação rápida são essenciais para cumprir os requisitos estabelecidos.
4. Solidez jurídica e financeira
Para acessar títulos desse tipo, projetos de saneamento devem possuir modelagem robusta, análise de risco e conformidade institucional.
5. Governança e comunicação
Demonstrar impactos ambientais, sociais e de resiliência aumenta a chance de aprovação e atratividade do projeto junto a investidores.
Implicações práticas para o Brasil e para o saneamento
A iniciativa torna o saneamento brasileiro protagonista na agenda de infraestrutura resiliente. Como o Brasil será o primeiro país a receber parte dos recursos, abre-se uma oportunidade de modernização acelerada, sobretudo em áreas urbanas sujeitas a enchentes, estiagens e eventos extremos.
A emissão também alinha o saneamento aos marcos internacionais, como o Marco de Sendai e as taxonomias climáticas, exigindo maior transparência, padronização e eficiência. Empresas de saneamento poderão usar essa estrutura como referência para planejamento estratégico, revisão de indicadores e atração de novos investimentos.
Conclusão
A emissão do título de resiliência pela CAF representa um avanço significativo para o saneamento, que passa a ser reconhecido como infraestrutura essencial para a adaptação climática. Além de ampliar fontes de financiamento, o movimento incentiva uma mudança de postura no setor: mais foco em resiliência, inovação e continuidade operacional.
Profissionais do saneamento que se adaptarem rapidamente a esse novo cenário terão vantagem competitiva e estarão melhor preparados para os desafios climáticos e urbanos das próximas décadas.



