Retrospectiva do Saneamento no Brasil — do Império ao Marco Legal atual e o futuro

Por que essa história importa

O Brasil avançou muito nas últimas décadas em legislação, infraestrutura e gestão do saneamento, mas ainda enfrenta enormes desafios. Do Código de Águas de 1934 ao Novo Marco Legal de 2020, o país construiu bases jurídicas e institucionais que orientam as políticas de abastecimento, esgotamento sanitário, drenagem e resíduos sólidos. Hoje, as metas de universalização até 2033 (99% da população com acesso à água potável e 90% com coleta e tratamento de esgoto) representam não apenas um compromisso, mas um divisor de águas na busca pela equidade social e pela sustentabilidade ambiental.

Linha do tempo do saneamento no Brasil

  • 1934 – Código de Águas: primeira base legal para gestão das águas.
  • 1971 – PLANASA: expansão de água urbana e criação de companhias estaduais.
  • 1988 – Constituição Federal: saneamento como direito e competência comum.
  • 1997 – Lei 9.433 (Política Nacional de Recursos Hídricos): integração entre água e planejamento territorial.
  • 2000 – Criação da ANA: autarquia federal de águas, que a partir de 2020 assume papel regulador no saneamento.
  • 2007 – Lei 11.445: diretrizes nacionais para abastecimento, esgoto, resíduos e drenagem.
  • 2010 – Decreto 7.217: regulamentação da Lei 11.445, reforçando planejamento municipal.
  • 2010 – Lei 12.305 (Política Nacional de Resíduos Sólidos): responsabilidade compartilhada, logística reversa e eliminação dos lixões (meta original: 2014, ainda não cumprida em diversos municípios).
  • 2020 – Lei 14.026 (Novo Marco Legal): metas até 2033, fortalecimento regulatório e regionalização.
  • 2023 – Decretos 11.466 e 11.467: ajustes de prazos e regras para blocos regionais.
  • 2024–2025 – Normas de Referência da ANA: padronização regulatória em governança, matriz de riscos, tarifas, drenagem urbana e resíduos sólidos.

Grandes obras e sistemas que marcaram o setor

  • ETA Guandu (RJ): maior estação de tratamento de água do mundo, com capacidade acima de 40 m³/s.
  • Sistema Cantareira (SP): um dos maiores sistemas de abastecimento do planeta.
  • Projeto de Integração do Rio São Francisco: segurança hídrica a mais de 12 milhões de pessoas no Nordeste.
  • Adutora do Agreste (PE): reforço hídrico estratégico para o semiárido.
  • Sistema Produtor São Lourenço (SP): ampliou em 6,4 m³/s a oferta de água da Região Metropolitana de São Paulo.
  • Drenurbs (Belo Horizonte): referência nacional em drenagem sustentável, integrando revitalização urbana com controle de cheias.
  • Aterros sanitários de Salvador, Curitiba e São Paulo: substituição progressiva de lixões, com geração de energia a partir de biogás em alguns projetos.

Onde estamos hoje

No abastecimento e esgotamento, as metas do Novo Marco são claras: universalizar até 2033. Mas o desafio financeiro é grande: estima-se a necessidade de R$ 700 a 900 bilhões em investimentos. Já na drenagem urbana, apenas cerca de 45% dos municípios brasileiros possuem algum plano estruturado, e os eventos extremos de chuva expõem a urgência de novas soluções. Nos resíduos sólidos, ainda existem mais de 2.000 lixões ativos, apesar da meta de encerramento prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos. A coleta seletiva atinge menos de 20% dos municípios, revelando um enorme espaço para avanços.

O futuro do saneamento no Brasil

  1. Contratos com metas e penalidades: segurança jurídica e padronização pela ANA.
  2. Regionalização: blocos regionais permitindo escala e equilíbrio financeiro.
  3. Drenagem sustentável: implantação de soluções baseadas na natureza, como parques lineares, jardins de chuva e reservatórios de detenção.
  4. Gestão de resíduos: expansão da coleta seletiva, valorização de recicláveis, geração de energia em aterros e logística reversa obrigatória.
  5. Obras estruturantes: novas adutoras, interligações, reuso de água e redução de perdas (hoje em torno de 40%).
  6. Eficiência + ESG: empresas pressionadas a mostrar resultados em transparência, sustentabilidade e governança.
  7. Investimento contínuo: necessidade de aportes públicos, privados e multilaterais, garantindo ritmo de obras até 2040.

Conclusão

No 7 de Setembro, refletir sobre independência é reconhecer que liberdade também significa acesso universal a água potável, esgoto tratado, drenagem urbana eficiente e gestão responsável dos resíduos. O Brasil já tem leis modernas, obras emblemáticas e metas definidas. O desafio agora é transformar planos em resultados práticos, garantindo cidades resilientes, rios limpos e saúde pública de qualidade.

Artigo especial — SANEAMENTO PRO, 7 de setembro de 2025