O anúncio marca uma guinada histórica: hoje, nadar no Tibre é proibido e passível de multa, com raras exceções simbólicas. Caso o plano seja cumprido, Roma se somará a outras capitais europeias que vêm reabrindo seus rios para uso recreativo, após longos ciclos de investimento e gestão integrada.
Reflexões para o Brasil
A experiência internacional reacende o debate sobre rios urbanos brasileiros. Três casos são emblemáticos pela relevância histórica, escala de intervenção necessária e aprendizados de políticas públicas: Tietê/Pinheiros (São Paulo), Capibaribe (Recife) e Arrudas (Belo Horizonte).
1) Rio Tietê & Rio Pinheiros — São Paulo
- Problemas: despejo de esgoto doméstico e industrial, assoreamento, poluição difusa decorrente da urbanização e da drenagem ineficiente.
- Ações: programas de despoluição conectando milhares de imóveis à rede de coleta, ampliação do tratamento de esgoto, obras de desassoreamento e reforço em interceptores; investimentos adicionais previstos para trechos médios e baixos da bacia.
- Desafios: persistência de trechos com baixa qualidade da água, coordenação entre múltiplos municípios e manutenção do ritmo de obras e conexões domiciliares.
2) Rio Capibaribe — Recife
- Problemas: déficit de coleta e tratamento de esgoto em áreas densas, lançamento in natura e piora recente em indicadores de qualidade da água.
- Ações: planos regionais de saneamento, ampliações pontuais de estações de tratamento, monitoramento recorrente por instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil.
- Desafios: ampliar cobertura de esgotamento, coibir ligações clandestinas, assegurar financiamento contínuo e integrar obras de saneamento com soluções de drenagem urbana.
3) Rio Arrudas — Belo Horizonte
- Problemas: carga elevada de esgoto doméstico, acúmulo de resíduos sólidos, enchentes agravadas pela impermeabilização da bacia e canalização de trechos do curso d’água.
- Ações: programas de revitalização na bacia Arrudas–Onça, expansão de interceptores, intervenções de drenagem e campanhas de educação ambiental.
- Desafios: déficit de coleta e tratamento em áreas periféricas, necessidade de integração entre saneamento, drenagem e planejamento urbano, além de recursos para execução integral do plano.
Lições comuns
- Investimento contínuo em saneamento: universalização de coleta e eficiência no tratamento de esgoto.
- Gestão integrada: alinhar saneamento, drenagem e resíduos sólidos ao ordenamento urbano.
- Monitoramento permanente: acompanhamento de qualidade da água para orientar decisões e informar a população.
- Engajamento social: participação comunitária para reduzir descartes irregulares e sustentar políticas de longo prazo.
Impactos esperados
Rios urbanos recuperados significam ganhos concretos: redução de doenças de veiculação hídrica, valorização imobiliária, atração de turismo, novas áreas de lazer, mitigação de enchentes e resgate cultural. A experiência recente de capitais europeias demonstra que os benefícios superam os custos, desde que haja continuidade administrativa, planejamento técnico robusto e transparência no acompanhamento das metas.
O Brasil já reúne iniciativas importantes, mas precisa acelerar a expansão de redes coletoras, a eficiência em estações de tratamento e a integração com a drenagem urbana para transformar boas intenções em resultados mensuráveis. Com governança estável, financiamento adequado e participação social, nossos rios também podem voltar a ser parte viva do cotidiano das cidades — inclusive para banho onde a segurança sanitária assim permitir.



