Universalização do saneamento na Amazônia Legal rende R$ 330 bi

A universalização do saneamento na Amazônia Legal ganhou centralidade em 2025 por combinar impacto social e retorno econômico mensurável. Segundo estimativas recentes, alcançar cobertura total de água e esgoto até 2040 pode destravar um ganho líquido de aproximadamente R$ 330 bilhões para a região. Desse modo, o presente artigo traduz achados atualizados para um público técnico do setor de saneamento, organizando recomendações de planejamento, tecnologia, financiamento e governança aplicáveis ao contexto amazônico, sempre com linguagem clara e foco em execução.

Panorama atual do saneamento

A Amazônia Legal reúne nove estados (AC, AP, AM, MA, MT, PA, RO, RR e TO), somando 772 municípios e cerca de 26,6 milhões de habitantes. Apesar de avanços, a região ainda convive com déficits expressivos de saneamento: milhões de pessoas permanecem sem água tratada e a maioria não está conectada à coleta de esgoto. Ademais, a taxa de tratamento de efluentes é baixa, elevando a carga poluidora sobre rios e igarapés. Portanto, o saneamento permanece vetor crítico de saúde, produtividade e preservação ambiental, exigindo respostas técnicas e institucionais consistentes.

Benefícios socioeconômicos do saneamento

Ao universalizar o saneamento, projetam-se benefícios diretos e indiretos: redução de internações por doenças de veiculação hídrica; diminuição de dias perdidos no trabalho e na escola; valorização imobiliária; estímulo ao turismo; e incremento de arrecadação. Em termos agregados, estima-se retorno elevado sobre cada real investido, com ganho líquido acumulado de R$ 330 bilhões até 2040 na Amazônia Legal. Em síntese, investir em saneamento significa poupar gastos com saúde, aumentar produtividade e proteger ecossistemas estratégicos.

Desafios estruturais e logísticos

Contudo, a execução enfrenta barreiras conhecidas: lacunas de infraestrutura de água e esgoto; custos logísticos elevados; dispersão populacional; áreas de difícil acesso; restrições de financiamento; e capacidade institucional limitada para estruturar projetos, contratar, operar e manter sistemas de saneamento. Além disso, a governança é desafiada por sobreposições de competências e pela necessidade de regulação estável. Assim, a agenda de saneamento demanda planejamento multiescalar e soluções tecnológicas adaptadas ao território, com marcos regulatórios que assegurem previsibilidade aos investimentos.

Estratégias técnicas recomendadas

Planejamento integrado e por bacias: estruturar programas regionais de saneamento conectando captação, adução, ETA/ETE, redes (incluindo condutos forçados e elevatórias), reuso e disposição final ambientalmente adequada. Priorizar metas de perdas, cobertura, qualidade de efluentes e continuidade.

Portfólio tecnológico apropriado: além de sistemas convencionais, adotar soluções modulares e descentralizadas para comunidades isoladas; wetlands construídos e outras Soluções Baseadas na Natureza; ETEs compactas; desinfecção robusta; reuso local; e monitoramento on-line. Para redes extensas, considerar setorização, macromedição e automação para reduzir perdas e OPEX do saneamento.

Financiamento e modelagem: combinar CAPEX público com PPPs/concessões quando viável; acessar fundos climáticos e multilaterais para projetos com co-benefícios ambientais; e estruturar receitas acessórias (reuso, créditos de carbono, energia a partir de lodo) que melhorem bancabilidade. Em outras palavras, a engenharia financeira deve caminhar junto da engenharia de projetos de saneamento.

Capacitação e O&M: investir na formação de operadores locais, planos de manutenção preventiva, estoques críticos e protocolos de resposta rápida. Assim, os sistemas de saneamento mantêm desempenho estável ao longo do ciclo de vida.

Regulação e contratos por desempenho: metas auditáveis de cobertura, qualidade e eficiência; incentivos à redução de perdas e à ampliação do tratamento; transparência em indicadores, prazos e penalidades; e governança interfederativa com papéis bem definidos.

Indicadores e metas para gestão

A gestão efetiva do saneamento requer indicadores rastreáveis e alinhados a metas temporais: cobertura de água, coleta e tratamento; perdas na distribuição; continuidade do abastecimento; qualidade da água; eficiência eletromecânica; e conformidade de efluentes. Além disso, a priorização de áreas críticas com mapas de risco sanitário e ambiental melhora a alocação de recursos. Por fim, o acompanhamento periódico de resultados orienta correções de rota, fortalece a prestação de contas e sustenta a credibilidade do saneamento perante financiadores e sociedade.

Foco territorial e priorização

Os ganhos absolutos e per capita não são uniformes entre estados e capitais da Amazônia Legal, o que exige priorização criteriosa. Evidências recentes apontam concentração de benefícios em estados como Pará, Maranhão e Mato Grosso, enquanto capitais como Rio Branco e Porto Velho despontam em ganhos per capita. Dessa forma, programas estaduais de saneamento devem contemplar cronogramas e carteiras de projetos compatíveis com essas diferenças, acelerando investimentos onde o impacto é maior e sequenciando etapas conforme capacidade de execução local.

Como transformar potencial em execução

Para converter projeções em obras e serviços de saneamento, recomenda-se: (i) carteiras plurianuais de projetos executivos “prontos para financiamento”; (ii) padronização de especificações e editais; (iii) seleção de tecnologias compatíveis com logística e regime hidrológico; (iv) governança com metas compartilhadas e monitoradas; e (v) transparência de dados para atrair capital. Além disso, integrar saneamento às agendas de saúde, educação, habitação e meio ambiente amplia o valor social dos programas e fortalece a priorização orçamentária em nível estadual e municipal.

Conclusão

Em síntese, universalizar o saneamento na Amazônia Legal é estratégia de alto impacto e comprovada relação custo-benefício. Estão mapeados retornos econômicos expressivos, redução de agravos à saúde e ganhos ambientais sistêmicos. Entretanto, alcançar 2040 com metas cumpridas dependerá de planejamento integrado, engenharia adaptada ao território, financiamento bem estruturado e regulação consistente. Portanto, ao adotar essas diretrizes, o campo do saneamento terá condições de entregar resultados sustentáveis e duradouros para a região, transformando potencial em realidade.

Fontes

  • Exame — “Universalização do saneamento nos estados da Amazônia Legal pode gerar incremento de R$ 330 bilhões”: https://exame.com/brasil/universalizacao-do-saneamento-nos-estados-da-amazonia-legal-pode-gerar-r-330-bilhoes/
  • Agência Brasil — “Universalização do saneamento na Amazônia pode gerar R$ 330 bilhões” (2025): https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-09/universalizacao-do-saneamento-na-amazonia-pode-gerar-r-330-bilhoes
  • Instituto Trata Brasil — Ranking do Saneamento 2025 (Resumo Executivo): https://tratabrasil.org.br/wp-content/uploads/2025/07/Resumo-Executivo_Ranking-Saneamento-2025.pdf
  • Instituto Trata Brasil — Página do Ranking 2025: https://tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-2025/
  • R7 — “Saneamento na Amazônia Legal traz retorno econômico e social cinco vezes maior que o investimento” (2025): https://noticias.r7.com/brasilia/saneamento-na-amazonia-legal-traz-retorno-economico-e-social-cinco-vezes-maior-que-o-investimento-16092025/