10 formas de reduzir custos operacionais em aterros sanitários

Este artigo reúne 10 estratégias práticas e comprovadas para reduzir custos operacionais em aterro sanitário, mantendo a segurança, o desempenho ambiental e a conformidade legal. As recomendações combinam gestão, tecnologia e processos, com sugestões de indicadores-chave (KPIs), checklists de implantação, ganhos típicos e exemplos de cidades que já adotaram cada solução. O objetivo é apoiar equipes técnicas e gestoras na tomada de decisão e na priorização de investimentos com retorno rápido.

1) Implantar sistemas de pesagem e controle digital de cargas

Automatizar a pesagem na entrada/saída (balanças integradas a um sistema de gestão) evita inconsistências de registro e reduz perdas de receita. Integre: cadastro de transportadores, origem/destino, tipo de resíduo, placa, data/hora, foto e ticket digital. Configure regras de alçada e auditoria automática (ex.: alertas de variação anormal por tipo de resíduo).

  • KPIs: divergência média entre peso bruto e líquido; % de tickets auditados; tempo médio por pesagem.
  • Ganhos típicos: 5–10% de redução em custos administrativos e fraudes; melhor rastreabilidade.
  • Checklist: balança homologada, integração com ERP, câmera LPR, app para fiscal.
  • Exemplo de cidade: Seropédica–RJ (CTR Rio com guarita, balança rodoviária e controle de acesso estruturado).

2) Otimizar compactação e cobertura diária

A compactação correta aumenta a densidade aparente e prolonga a vida útil do aterro sanitário. Padronize lances, inclinações e número de passagens; calibre a pressão dos rolos; controle umidade do material de cobertura. Use ensaios periódicos de densidade e topografia por drone para aferição volumétrica, ajustando metas por turno.

  • KPIs: densidade média (t/m³); diesel por tonelada; % de área coberta no prazo legal.
  • Ganhos típicos: até 40% de redução de volume e menor custo por tonelada disposta.
  • Checklist: plano diário de operação (PDO), metas por turno, manutenção preventiva do compactador.
  • Exemplo de cidade: Avaré–SP (monitoramento volumétrico por drone para apoiar compactação e cobertura).

3) Aproveitar energeticamente o biogás

O biogás do aterro sanitário pode alimentar geradores elétricos, caldeiras ou microturbinas, reduzindo despesas de energia e gerando receita adicional (venda de energia/CRÉDITOS de carbono). Priorize estanqueidade da célula e um sistema de coleta/drenagem com poços e drenos bem dimensionados.

  • KPIs: m³ de biogás captado/ton; kWh gerado/m³; % de queima controlada versus fugitiva.
  • Ganhos típicos: autossuficiência energética parcial/total e redução do OPEX elétrico.
  • Checklist: inventário de emissões, flare de segurança, manutenção de sopradores e analisadores de gás.
  • Exemplo de cidade: Caieiras–SP (Termoverde Caieiras, ~29,5 MW instalados a partir de biogás de aterro).

4) Tratar e reusar o chorume no próprio site

Sistemas compactos (osmose reversa, MBR, EGSB, wetlands) reduzem o volume a ser transportado para tratamento externo. Sempre que possível, recircule parte do concentrado de forma controlada na massa de resíduos para aumentar a geração de biogás e melhorar a biodegradação, e reclassifique usos do permeado conforme licença (lavagem de vias, irrigação de áreas verdes internas, etc.).

  • KPIs: custo de transporte (R$/m³); remoção de DBO/DQO; % de permeado reutilizado.
  • Ganhos típicos: 20–35% de economia logística e menor risco de estocagem.
  • Checklist: licenciamento específico, plano de contingência, monitoramento online de parâmetros críticos.
  • Exemplo de cidade: São José dos Campos–SP (projeto de reúso de chorume para reduzir custos de transporte e consumo de água potável).

5) Reaproveitar inertes em obras internas

Utilize entulho triado, escória, solo-cimento e podas trituradas para manutenção de vias, taludes e cobertura diária. Reduz compra de solo e cascalho, economizando significativamente em materiais e fretes, com controle de qualidade e rastreabilidade.

  • KPIs: toneladas de inertes reaproveitadas/mês; custo evitado (R$/m³) em insumos externos.
  • Ganhos típicos: economia relevante em aterros de médio porte; menor emissão por transporte externo.
  • Checklist: controle de granulometria/contaminantes, estoque coberto, rota de aplicação definida.
  • Exemplo de cidade: Guarabira–PB (EIA prevendo ATT de RCD para triagem e aproveitamento de materiais de construção).

6) Monitorar por drones e sensoriamento remoto

Drones com câmeras RGB/LiDAR e sensores térmicos detectam recalques, erosões, hotspots de gás e tombamentos de talude. O sensoriamento possibilita medições volumétricas rápidas, planejamento de frentes e comprovação de conformidade com alto grau de precisão, reduzindo inspeções manuais perigosas.

  • KPIs: número de inspeções/mês; tempo médio de resposta a anomalias; acurácia volumétrica.
  • Ganhos típicos: até 70% de redução no custo de vistorias manuais e maior segurança.
  • Checklist: piloto certificado, plano de voo, integração com SIG/BI para histórico e relatórios.
  • Exemplo de cidade: Avaré–SP (estudo de caso com aerofotogrametria para monitoramento volumétrico do aterro municipal).

7) Gestão inteligente da frota e dos equipamentos

Telemetria e manutenção preventiva/preditiva reduzem paradas e consumo de combustível. Controle horas-máquina, ociosidade em marcha lenta, temperatura de operação e vibração para agir antes da falha. Em operações integradas, a transferência para carretas de alta capacidade reduz viagens e custo por tonelada transportada entre ETRs e o aterro.

  • KPIs: disponibilidade (%), MTBF/MTTR, consumo (L/ton), custo de manutenção por hora.
  • Ganhos típicos: 15–25% de redução de manutenção corretiva e diesel.
  • Checklist: CMMS, estoque de peças críticas, rotina de inspeção diária, metas por turno.
  • Exemplo de cidade: Seropédica–RJ (logística com ETRs e carretas de grande capacidade no CTR Rio, reduzindo custo de transporte).

8) Planejamento 3D de células e topografia operacional

Modelagem 3D e topografia periódica orientam o empilhamento ideal, a altura de bancos e inclinações de talude, garantindo eficiência volumétrica e segurança geotécnica. O resultado é menor custo de movimentação e atraso de investimentos em novas áreas, além de melhor documentação “as built”.

  • KPIs: fator de enchimento (m³/ha/ano), custo de movimentação (R$/m³), conformidade de declividade.
  • Ganhos típicos: redução de retrabalho e maximização da vida útil do aterro sanitário.
  • Checklist: base cartográfica, pontos de controle, revisão trimestral de modelos e “as built”.
  • Exemplo de cidade: Avaré–SP (levantamentos por drone viabilizam modelos 3D para planejamento operacional).

9) Triagem de recicláveis e compostagem de orgânicos

A implantação de UTRs e centrais de compostagem reduz o volume de rejeitos destinados ao aterro sanitário, gera receita com materiais e diminui a geração de chorume. Parcerias com cooperativas ampliam impacto social e reduzem OPEX, com contratos orientados a desempenho.

  • KPIs: desvio de aterro (%), receita por material (R$/ton), taxa de impurezas nos recicláveis.
  • Ganhos típicos: até 30% de redução do volume enviado ao aterro, com retorno financeiro.
  • Checklist: contrato/performance com cooperativas, educação ambiental, rotas dedicadas para secos.
  • Exemplo de cidade: Rio Branco–AC (UTRE com unidade de triagem e compostagem integradas ao sistema municipal).

10) Treinamento contínuo e bonificação por eficiência

Programa estruturado de capacitação, com metas por turno (diesel/ton, tempo de ciclo, densidade atingida), cria cultura de excelência e reduz desperdícios. Bonificações atreladas a indicadores sustentam resultados no longo prazo e ajudam a manter notas máximas em avaliações ambientais.

  • KPIs: consumo de diesel/ton, taxa de retrabalho, horas de treinamento/colaborador/ano.
  • Ganhos típicos: 10–15% de economia de combustível e melhor conservação dos ativos.
  • Checklist: trilhas de aprendizagem, DDS temático, painel visual de metas e reconhecimento mensal.
  • Exemplo de cidade: São José dos Campos–SP (histórico de nota 10 da CETESB associado a boas práticas operacionais e gestão).

Priorização: como escolher por onde começar

Para decidir a sequência de implantação, use uma matriz impacto x esforço e um horizonte de 12 meses. Normalmente, a priorização para aterro sanitário de médio porte segue: (1) pesagem digital, (2) compactação/cobertura, (3) telemetria de frota, (4) triagem/compostagem, (5) biogás e (6) tratamento local de chorume. Combine ganhos rápidos (quick wins) com projetos estruturantes de maior CAPEX, garantindo fluxo de caixa e viabilidade.

Indicadores e painel de controle (modelo sugerido)

Indicador Fórmula / Unidade Meta de Referência Periodicidade
Densidade de compactação t/m³ (ensaio + topografia) ≥ 0,75 t/m³ (ajustar ao perfil do resíduo) Mensal
Diesel por tonelada L/ton disposta Redução contínua (baseline -10% em 6–12 meses) Semanal
Desvio de aterro % triado + compostado / total recebido ≥ 20% (escala progressiva) Mensal
Energia autogerada kWh/mês e % da demanda ≥ 30% da demanda interna Mensal
Custo de transporte de chorume R$/m³ -20% em 12 meses Mensal
Disponibilidade da frota % horas disponíveis / horas planejadas ≥ 90% Semanal

Riscos e controles essenciais

  • Conformidade ambiental: todo ganho de eficiência deve manter (ou elevar) o nível de controle ambiental do aterro sanitário.
  • Segurança do trabalho: padronize PTs, DDS, balizamento de frentes e tráfego interno; drone não substitui inspeção crítica.
  • Qualidade de dados: indicadores só funcionam com base de dados íntegra; implemente auditoria e trilhas de logs.
  • Contratos e metas: alinhe SLAs com transportadores, cooperativas e O&M para evitar desalinhamento de incentivos.

Conclusão

Reduzir o custo operacional de um aterro sanitário não depende de uma única medida, mas do conjunto coordenado de práticas: pesagem digital confiável, compactação e cobertura disciplinadas, frota com manutenção inteligente, triagem/compostagem para desviar rejeitos, valorização do biogás e tratamento local do chorume. Com governança de dados e metas claras, o resultado é menor OPEX, maior vida útil e melhor desempenho ambiental.

Fontes (links clicáveis)