Inovação no Tratamento de Água: tecnologia remove PFAS e reduz riscos de câncer

Os químicos críticos (PFAS), conhecidos internacionalmente como forever chemicals, representam hoje um dos maiores desafios no tratamento de água. Extremamente estáveis devido à ligação carbono-flúor, eles resistem à degradação natural e acabam se acumulando em mananciais e organismos vivos. Estão presentes em itens do dia a dia como panelas antiaderentes, embalagens de fast-food, roupas impermeáveis, espumas de combate a incêndio e até cosméticos.

Tecnologias aplicadas na remoção de PFAS

A eliminação desses compostos exige processos avançados, entre os quais se destacam:

  • Carvão Ativado Granular (GAC): adsorve PFAS de cadeia mais longa (PFOA, PFOS), mas precisa de substituição frequente do leito.
  • Resinas de Troca Iônica: capturam inclusive PFAS de cadeia curta, apresentando elevada eficiência. Exigem manejo cuidadoso da regeneração.
  • Membranas (nanofiltração e osmose reversa): removem praticamente todos os tipos de PFAS, mas têm custo elevado e geram rejeitos concentrados.
  • Processos Oxidativos Avançados (POAs): ainda em fase experimental, buscam quebrar a ligação C–F, com destaque para plasma, UV/peróxido e eletro-oxidação.

Resultados do estudo da ACS ES&T Water

Em setembro de 2025, a revista científica ACS ES&T Water publicou um estudo que avaliou 19 sistemas de abastecimento nos Estados Unidos que implementaram tecnologias de remoção de PFAS entre 2018 e 2022. Além da redução desses compostos emergentes, os pesquisadores identificaram um efeito adicional surpreendente:

  • 42% de redução nos trihalometanos (THMs)
  • 50% de redução nos ácidos haloacéticos (HAAs)

Esses dois subprodutos da desinfecção com cloro são regulados em diversos países devido à sua associação com aumento de risco de câncer, mas continuam presentes na água tratada convencionalmente. Ou seja, a aplicação das tecnologias de remoção de PFAS trouxe uma dupla eficiência: combate aos químicos críticos e mitigação de subprodutos carcinogênicos.

O que isso representa para o Brasil

Embora o Brasil ainda não possua regulação específica para PFAS, a discussão já avança nos fóruns técnicos e regulatórios. O estudo da ACS ES&T Water mostra que investir em tecnologias avançadas não é apenas uma resposta a pressões futuras, mas também uma oportunidade imediata de melhorar a qualidade da água distribuída.

Companhias de saneamento podem se beneficiar ao:

  • Mapear áreas críticas e vulneráveis à presença de PFAS.
  • Implantar projetos-piloto com GAC, resinas ou membranas para avaliar desempenho em diferentes tipos de mananciais.
  • Adotar padrões internos mais rigorosos, alinhando-se antecipadamente às tendências regulatórias internacionais.
  • Comunicar ao público os avanços em segurança e inovação, fortalecendo a credibilidade institucional.

O futuro do tratamento de água passa por soluções que unem ciência, inovação e saúde pública. A experiência americana mostra que ao combater os químicos críticos, também reduzimos outros riscos silenciosos da desinfecção. Essa é uma oportunidade de transformar desafios em avanços para o saneamento no Brasil.