O abastecimento de água nas cidades brasileiras enfrenta o mesmo dilema do mundo inteiro: redes antigas, vazamentos constantes e orçamentos limitados. Nesse contexto, o CIPP (Cured-in-Place Pipe), ou encamisamento curado no local, surge como uma solução de reabilitação sem valas que diminui rupturas de vias, acelera prazos e, além disso, reduz custos totais do ciclo de obra. Assim, em vez de trocar trechos inteiros por escavação, instala-se um “tubo dentro do tubo” usando resina especial e cura por água quente, vapor ou luz UV. Como resultado, devolve-se capacidade hidráulica e estanqueidade ao sistema de abastecimento de água, com menor impacto social e ambiental.
O que é o CIPP para redes de água potável e quais padrões seguir?
Para abastecimento de água, existem normas e certificações específicas que garantem segurança sanitária e desempenho estrutural. Em síntese: AWWA C623 (requisitos de materiais, inspeção, instalação e testes para adutoras e redes de água), NSF/ANSI/CAN 61 (componentes em contato com água potável) e referências como ASTM F1216 e a família ISO 11296 para projeto e execução. Portanto, especificar por desempenho e por normas evita soluções impróprias, como o uso de liners voltados a esgoto em linhas de água.
Onde já está sendo usado e com quais resultados?
Internacionalmente, o CIPP para abastecimento de água é realidade em grandes centros. Em áreas densas de São Paulo, por exemplo, projetos recentes com liner UV-CIPP para água potável reabilitaram centenas de metros de rede com janelas noturnas e sem valas extensas, evidenciando ganhos logísticos. Em Montreal, programas de reabilitação vêm acumulando dezenas de quilômetros por CIPP em redes de água, enquanto em cidades asiáticas já se observam instalações em adutoras de pequeno e médio diâmetro concluídas em poucas horas. Esses resultados comprovam produtividade, previsibilidade de prazo e redução de impacto urbano — elementos críticos para o abastecimento de água.
Benefícios técnicos e econômicos
Do ponto de vista de engenharia, o CIPP devolve estanqueidade, melhora a rugosidade interna e, portanto, contribui para reduzir perdas no abastecimento de água. Além disso, estudos internacionais apontam vida útil projetada superior a 50 anos, com resistência validada em cenários extremos. Em termos de custo, faixas típicas municipais variam conforme diâmetro, pressão, acesso e necessidade de desvio de vazão; ainda assim, observa-se que reabilitar por CIPP pode custar significativamente menos que substituir por vala aberta, sobretudo quando se consideram custos sociais como trânsito, ruído, emissões e recomposição de pavimentos. Assim, o método tende a maximizar a extensão reabilitada por real investido no abastecimento de água.
Custos de referência e fatores que mais pesam
Para planejamento em companhias brasileiras, recomenda-se orçar por diâmetro, pressão de teste, extensão, número de derivações e logística de desvio. Em geral, linhas de abastecimento de água com diâmetros entre 100 e 600 mm e pressões urbanas usuais apresentam melhor relação custo-benefício. Adutoras maiores e de alta pressão podem exigir liners reforçados (fibra de vidro ou aramida) e cura por UV, encarecendo o metro linear. Portanto, convém comparar sempre com a substituição a céu aberto ao estimar CAPEX e também considerar custos indiretos que afetam o abastecimento de água local.
Fornecedores e tecnologias disponíveis (amostra)
Para abastecimento de água, é crucial exigir certificação sanitária e aderência a normas. Entre fornecedores com soluções para potável destacam-se: SAERTEX multiCom (liners GRP curados por UV para água), SANEXEN/LOGISTEC (Aqua-Pipe, CIPP estrutural para linhas pressurizadas), Aegion/Insituform (sistemas para adutoras com certificação para água), Reline (portfólio UV para potável), além de fabricantes de feltros e resinas próprios para água. Como alternativa em adutoras pressurizadas, o sistema Primus Line (liner reforçado com aramida) pode ser comparado com CIPP em análises de viabilidade. Em todos os casos, recomenda-se solicitar documentação de desempenho, ensaios, certificação para contato com água potável e histórico de aplicações.
Cuidados ambientais e de qualidade da água
Em aplicações com cura térmica por vapor ou água e resinas estirenadas, é essencial mitigar emissões e manejar efluentes de cura. Por isso, em abastecimento de água, cresce o uso de UV-CIPP com resinas apropriadas e certificadas para contato com água potável. Em todos os casos, devem-se seguir protocolos de limpeza, teste e desinfecção após a obra, assegurando conformidade de qualidade da água antes do retorno à operação. Essa etapa é decisiva para a confiança da população e para a continuidade do abastecimento de água.
Como aplicar em companhias de saneamento do Brasil (passo a passo)
1) Seleção de trechos críticos: cruzar idade de rede, histórico de rompimentos, índice de perdas e reclamações do abastecimento de água.
2) Diagnóstico técnico: inspeção, ensaio de pressão, verificação de derivações e restrições operacionais.
3) Especificação por desempenho: exigir normas aplicáveis, critérios de projeto e de testes hidrostáticos, e certificações sanitárias.
4) Plano de obra com bypass: manter o abastecimento de água contínuo com linhas provisórias, janelas noturnas e comunicação transparente com a comunidade.
5) Instalação, cura e testes: controle de temperatura ou dosagem UV, registros em data logger, testes de estanqueidade, desinfecção e liberação.
6) Reativação de ramais e comissionamento: documentação “as built”, programa de monitoramento de qualidade e perdas do abastecimento de água.
7) Escalonamento: usar os resultados para priorizar novos lotes e integrar o CIPP ao plano plurianual do abastecimento de água.
Quando o CIPP é a melhor escolha?
Em síntese, o CIPP tende a ser superior quando há trânsito intenso, hospitais, escolas ou áreas comerciais onde abrir valas prejudica o abastecimento de água; quando existem múltiplas interferências (gasodutos, cabos, drenagem) que encarecem a vala; quando o objetivo é reduzir perdas do abastecimento de água rapidamente, com menor emissão de gases de efeito estufa e menor impacto social; ou quando o CAPEX é limitado, mas busca-se a máxima extensão reabilitada por real investido. Dessa forma, a tecnologia reforça a resiliência do abastecimento de água com previsibilidade de custo e prazo.
Conclusão
Para redes brasileiras de abastecimento de água, o CIPP oferece ganho de disponibilidade com menos obra, menos transtorno e, frequentemente, menor custo total. Ao alinhar projeto, certificações sanitárias e execução qualificada, a tecnologia se torna um atalho seguro para recuperar desempenho hidráulico, diminuir perdas e entregar qualidade superior ao usuário final. Em última análise, incorporar programas contínuos de CIPP ao planejamento plurianual do abastecimento de água é uma estratégia concreta para dar longevidade aos ativos, aumentar a eficiência operacional e, ao mesmo tempo, melhorar a satisfação do cliente.



