Tratamento de água com MIEX: a solução contra NOM e THMs

O que é o MIEX

O MIEX (Magnetic Ion Exchange) é uma tecnologia de pré-tratamento de água desenvolvida na Austrália e já consolidada em vários países. Ela utiliza uma resina de troca iônica com núcleo magnético para remover a matéria orgânica natural (NOM), principal responsável pela cor, gosto, odor e pela formação de subprodutos da desinfecção, como os trihalometanos (THMs).

Por que aplicar no Brasil

No contexto brasileiro, grande parte das ETAs depende de mananciais superficiais com forte presença de matéria orgânica, cor e algas, especialmente em períodos chuvosos. Isso resulta em:

  • Instabilidade na coagulação;
  • Aumento no consumo de químicos;
  • Risco de ultrapassar limites de THMs;
  • Reclamações de gosto e odor na rede.

O MIEX atua como uma barreira inicial, estabilizando a água antes da coagulação e ajudando a manter a qualidade mesmo em períodos críticos.

Como funciona na prática

  1. A resina é adicionada em um tanque de contato com a água bruta.
  2. Ela troca íons cloreto por substâncias indesejadas, como ácidos húmicos e fúlvicos.
  3. Graças ao núcleo magnético, a resina se separa rapidamente da água.
  4. Parte da resina segue para regeneração com salmoura e retorna ao sistema.
  5. A água, agora mais limpa, segue para coagulação, flotação, filtração e desinfecção.

Esse ciclo contínuo garante operação estável e economia no tratamento de água.

Resultados já observados

  • Redução de até 80% no potencial de formação de THMs;
  • Economia de até 50% no uso de coagulantes;
  • Menor produção de lodo e redução de custos de descarte;
  • Melhoria na performance de membranas (MF/UF);
  • Operação mais previsível em períodos de chuvas fortes e florações de algas.

Como implantar no Brasil

Para aplicar o MIEX de forma prática, as companhias podem seguir alguns passos:

1. Diagnóstico inicial
Avaliar a qualidade do manancial (DOC, UV254, cor, alcalinidade, brometo/iodeto).
Mapear a variabilidade sazonal da água bruta.

2. Projeto piloto
Instalar um skid containerizado de MIEX em uma ETA.
Testar doses de 6–10 mL/L de resina com tempos de contato entre 15–30 minutos.
Monitorar DOC, UV254, turbidez, THMFP/HAAFP, consumo de coagulante e volume de salmoura gerado.

3. Análise de resultados
Comparar cenários com e sem MIEX, medindo economia química e melhoria de qualidade.
Calcular o custo por metro cúbico e estimar o payback.

4. Escala plena
Definir plano de regeneração e descarte da salmoura, em conformidade com normas ambientais.
Treinar operadores e integrar a tecnologia ao processo de coagulação e filtração.

Fornecedores e players relevantes

  • Evoqua Water Technologies (EUA/Austrália): detentora da tecnologia MIEX, com soluções completas e suporte técnico.
  • Veolia Water Technologies: oferece sistemas de troca iônica e membranas, com capacidade de integrar MIEX a outros processos.
  • SUEZ Water Technologies & Solutions: atua com resinas e soluções avançadas para pré-tratamento.
  • Orica / CSIRO (Austrália): desenvolvedores originais da resina MIEX, ainda referência técnica.
  • Representantes no Brasil: empresas de engenharia e integradores locais podem importar skids de MIEX e adaptar para ETAs brasileiras, especialmente aquelas já parceiras em membranas ou dessalinização.

Desafios e cuidados

  • A salmoura de regeneração deve ser gerida com responsabilidade ambiental.
  • Pode haver necessidade de autorizações regulatórias antes da adoção plena.
  • Custos iniciais podem ser altos, mas o retorno vem pela economia química e pela redução de riscos de não conformidade.
  • É essencial garantir monitoramento de subprodutos bromados/iodados quando presentes no manancial.

Conclusão

O MIEX oferece uma oportunidade real de modernização do tratamento de água no Brasil. Com ele, é possível reduzir NOM, melhorar a estabilidade operacional, economizar produtos químicos e atender com folga aos limites de qualidade da água. Para companhias que enfrentam desafios em mananciais superficiais, pilotar o MIEX pode ser o passo mais inteligente rumo a uma ETA mais eficiente e resiliente.

Fontes (links clicáveis)