O reservatório da Hidrelétrica de Furnas, localizado em Minas Gerais, entrou na Faixa de Atenção em outubro, segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O volume útil do reservatório caiu para 41,07%, o que levou à redução da vazão média de 939 m³/s (em setembro) para 846 m³/s (em outubro). Caso o nível se mantenha abaixo de 50% até dezembro, a vazão poderá ser reduzida ainda mais, para 500 m³/s.
Essa medida faz parte de um esforço nacional para preservar a água durante o período seco, que se estende de maio a novembro, e garantir a segurança hídrica dos múltiplos usos do sistema. A operação é regulamentada pela Resolução nº 193/2024 da ANA, que orienta o equilíbrio entre a geração de energia, o abastecimento humano e o uso agrícola.
A importância de Furnas para o sistema hídrico e o saneamento
Furnas é o maior reservatório da bacia do rio Grande, com um volume útil de 17,2 trilhões de litros e área inundada de 1.440 km², abrangendo parte dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Essa bacia hidrográfica atende aproximadamente nove milhões de pessoas e desempenha papel essencial na produção de energia elétrica e no fornecimento de água para diversos municípios.
Com a redução do nível de armazenamento, os impactos se estendem para o saneamento. A diminuição da vazão interfere no abastecimento de cidades ribeirinhas e na diluição de efluentes, o que pode comprometer a qualidade da água e aumentar os custos de tratamento. Além disso, o menor volume de água disponível pressiona sistemas de captação e exige maior eficiência das companhias de saneamento na gestão de perdas e na priorização de usos.
Gestão integrada para garantir segurança hídrica
A situação de Furnas revela a necessidade de uma visão sistêmica da gestão de recursos hídricos no país. O saneamento básico, a agricultura e a geração de energia competem por um mesmo recurso — a água —, o que exige planejamento conjunto, monitoramento constante e mecanismos de governança integrados entre estados, municípios e órgãos reguladores.
Nos últimos anos, o Brasil tem avançado na construção de instrumentos de gestão mais robustos. A ANA vem ampliando o monitoramento das bacias críticas e fortalecendo as regras de operação de reservatórios. A meta é garantir o equilíbrio entre geração de energia e disponibilidade para abastecimento, especialmente em períodos de seca prolongada, que têm se tornado mais frequentes devido às mudanças climáticas.
Impactos sobre o setor de saneamento
Para o setor de saneamento, a crise hídrica reforça a importância de investimentos em resiliência operacional. Isso inclui a ampliação de reservatórios de regularização, a integração de mananciais, o uso de tecnologias de reúso e a redução de perdas no sistema de distribuição. A escassez de água obriga as concessionárias a adotarem medidas preventivas, evitando o colapso em períodos críticos.
Outra frente estratégica é a diversificação de fontes, com incentivo ao aproveitamento de águas subterrâneas e ao tratamento de esgoto para reúso não potável. Essas soluções já são realidade em vários países e começam a ganhar espaço em projetos brasileiros de grande porte. O avanço tecnológico e regulatório permitirá que o reúso se torne um componente essencial da segurança hídrica e do planejamento do saneamento urbano.
Conexão entre energia, água e saneamento
A interdependência entre os setores de energia, agricultura e saneamento é evidente. Quando o volume de um reservatório como Furnas cai, a geração de energia é reduzida, e a prioridade passa a ser o abastecimento humano. Essa mudança de prioridade tem implicações diretas na economia, pois limita a oferta energética e pressiona os custos operacionais das companhias. Além disso, reduz a capacidade de diluição de efluentes, impactando a qualidade dos corpos d’água.
Portanto, o saneamento precisa estar no centro das políticas públicas de gestão de recursos hídricos. A integração entre planos de bacia, agências reguladoras e empresas de saneamento é fundamental para mitigar riscos e antecipar cenários críticos. A governança colaborativa permite respostas mais rápidas e eficazes em situações emergenciais, como a atual de Furnas.
O papel estratégico da ANA e dos gestores locais
A ANA tem papel essencial na coordenação das decisões que envolvem o uso da água para diferentes finalidades. A Resolução nº 193/2024 é um exemplo de como a regulação pode garantir a sustentabilidade do sistema, ao definir critérios técnicos e limites de vazão baseados em dados hidrológicos e projeções climáticas. Contudo, a efetividade dessas medidas depende da articulação com estados, municípios e companhias de saneamento, que são responsáveis pela execução das ações locais.
Além da gestão de vazões, é indispensável o fortalecimento de políticas de educação ambiental e de uso racional da água, tanto por parte da população quanto das indústrias. A eficiência hídrica é um dos pilares do novo paradigma do saneamento, que busca garantir o acesso universal sem comprometer os ecossistemas.
Conclusão: o alerta de Furnas como lição para o país
O caso de Furnas é um alerta para todo o Brasil. A redução do volume útil e a entrada na faixa de atenção indicam que o país precisa acelerar a integração entre o setor elétrico e o de saneamento. O fortalecimento das políticas de segurança hídrica e a ampliação do monitoramento climático devem ser prioridades nacionais. Só assim será possível assegurar água em quantidade e qualidade suficientes para o abastecimento, a produção de energia e o desenvolvimento sustentável.



