Contexto: energia limpa como alavanca do saneamento
O consumo de energia elétrica no saneamento é intenso e contínuo, pois envolve captação, adução, tratamento, desinfecção, bombeamento e disposição final. Portanto, integrar fontes renováveis às operações de saneamento torna-se estratégico para reduzir custos, mitigar riscos tarifários e fortalecer metas ambientais. A Sabesp, referência nacional, expandiu sua capacidade fotovoltaica com a entrega de mais uma usina, consolidando uma agenda que conecta saneamento, transição energética e eficiência operacional.
Além disso, ao priorizar energia limpa em unidades operacionais de saneamento, a empresa melhora a previsibilidade orçamentária e libera recursos para a expansão de redes, redução de perdas e universalização. Assim, o saneamento ganha resiliência e cria condições para manter níveis de serviço mesmo em cenários de pressão sobre tarifas e custos de eletricidade.
Dados técnicos e impactos operacionais
O programa fotovoltaico da Sabesp soma dezenas de usinas solares distribuídas pelo território paulista, com capacidade instalada que, somada, já alcança dezenas de megawatts. Em termos práticos, significa que parte relevante da demanda elétrica de instalações de saneamento passa a ser suprida por geração própria, reduzindo a dependência da rede e atenuando variações de preço. Em várias plantas de saneamento, potências unitárias na faixa de 1 a 3 MWp têm sido adotadas, aproveitando áreas de ETEs, ETAs e terrenos adjacentes para a implantação de arranjos fotovoltaicos em solo ou sobre coberturas.
Entre os principais efeitos observáveis para o saneamento estão: redução do custo médio por metro cúbico tratado, menor exposição a bandeiras tarifárias, ganho de reputação ambiental, diminuição de emissões associadas ao escopo 2 e reforço da continuidade do serviço ao consumidor final.
Benefícios diretos para o saneamento
- Previsibilidade de custos: a geração própria suaviza choques tarifários e melhora o planejamento orçamentário do saneamento.
- Uso de áreas disponíveis: ETEs e ETAs geralmente possuem terrenos aptos para módulos fotovoltaicos, reduzindo desapropriações e acelerando cronogramas no saneamento.
- Integração ESG: a energia limpa fortalece metas ambientais, reforçando a imagem do saneamento como política pública de saúde e meio ambiente.
- Economia reinvestível: a redução da fatura elétrica libera recursos para combate a perdas, modernização de elevatórias e expansão da cobertura de saneamento.
- Resiliência operacional: com sistemas híbridos, o saneamento mantém continuidade de bombeamento e tratamento em contingências.
Desafios e pontos de atenção
Apesar dos ganhos, a adoção de solar no saneamento exige planejamento multidisciplinar. É crucial alinhar o perfil de geração com a curva de carga de estações e elevatórias, dimensionando inversores, esquemas de proteção, qualidade de energia e, quando aplicável, armazenamento. O saneamento também precisa de rotinas de O&M para garantir limpeza de módulos, inspeção de conexões e monitoramento de strings, evitando perdas de performance. Ademais, o enquadramento regulatório e os modelos de compensação exigem conformidade estrita, com medições e registros auditáveis para que o saneamento capture integralmente os benefícios econômicos e ambientais.
Roteiro prático para gestores do saneamento
- Diagnosticar o consumo: mapear unidades com maior carga e custos no saneamento, priorizando as candidatas à geração distribuída.
- Aproveitar sinergias de área: utilizar terrenos e coberturas de ETEs/ETAs, reduzindo CAPEX e prazos no saneamento.
- Definir metas claras: estabelecer capacidade-alvo (MWp), percentual de autoconsumo e indicadores de desempenho no saneamento.
- Modelar o retorno: considerar CAPEX, O&M, depreciação, degradação anual e cenários tarifários para o saneamento.
- Governança e compliance: padronizar especificações, contratos, SLAs e registros metrológicos específicos do saneamento.
- Monitorar KPIs: acompanhar kWh gerado, custo evitado, CO₂ evitado e disponibilidade das plantas no saneamento.
Como a energia solar melhora a eficiência do saneamento
A compatibilidade entre o perfil diário de insolação e a operação diurna de muitas unidades de saneamento favorece índices de autoconsumo elevados. Em estações com bombeamento contínuo, o excedente pode ser compensado conforme as regras vigentes, enquanto períodos de menor insolação podem ser cobertos pela rede. Quando há integração com variadores de frequência e gerenciamento de demanda, o saneamento otimiza o uso da energia gerada, reduz picos e melhora fator de potência, reduzindo perdas elétricas internas.
Estratégias de integração tecnológica
Para potencializar ganhos no saneamento, recomenda-se integrar o SCADA com o sistema de monitoramento fotovoltaico, permitindo correlacionar produção, consumo e qualidade do tratamento. Em elevatórias, o controle avançado de bombas aliado à geração solar reduz partidas em horários críticos. Em ETAs e ETEs, a automação ajusta aeração, recirculação e dosagem com base em metas de eficiência energética sem comprometer a qualidade do saneamento. A adoção de baterias pode ser avaliada caso o perfil de carga e o valor da energia fora de ponta justifiquem o investimento.
Impactos ambientais e sociais no saneamento
Além do aspecto econômico, a expansão da energia solar reduz a pegada de carbono do saneamento, contribuindo para metas de descarbonização. Em regiões com fragilidades de rede, a geração local diminui a probabilidade de interrupções que afetariam a distribuição de água e o tratamento de esgoto. Com melhor previsibilidade de custos, políticas de ampliação de acesso ao saneamento ganham tração, sobretudo em áreas periféricas e municípios menores, reforçando o caráter universal e equitativo do serviço.
Implicações de longo prazo
No horizonte de médio e longo prazos, a consolidação de usinas solares no portfólio das companhias de saneamento deve favorecer contratos de desempenho, parcerias com desenvolvedores e padronização de projetos. À medida que o custo nivelado de energia (LCOE) da solar se mantém competitivo, o saneamento pode perseguir metas cada vez mais ambiciosas de autonomia energética, integrando soluções híbridas com baterias e, potencialmente, hidrogênio verde para aplicações específicas.
Conclusão
A expansão fotovoltaica liderada por empresas como a Sabesp demonstra que a energia limpa é um vetor de transformação do saneamento. Ao reduzir custos, ampliar a resiliência e fortalecer credenciais ambientais, a geração solar se consolida como ferramenta de gestão essencial. Com planejamento técnico, governança robusta e indicadores bem definidos, o saneamento pode acelerar a universalização, elevar a qualidade do serviço e sustentar a competitividade de longo prazo, beneficiando diretamente a população e o meio ambiente.



