Sabesp anuncia redução de 15% nas emissões até 2035

Contexto estratégico para o saneamento

O saneamento brasileiro vive um ciclo de expansão de cobertura e, simultaneamente, de pressão por eficiência ambiental. Assim, quando uma grande companhia define objetivos climáticos vinculados à operação de água e esgoto, o movimento ganha relevância setorial. Desse modo, a meta de reduzir 15% das emissões de gases de efeito estufa até 2035, com base em inventário recente, sinaliza uma governança mais robusta e, sobretudo, uma agenda de inovação aplicada ao saneamento.

Metas e escopos de emissões: o que muda

Para além do anúncio numérico, a abrangência técnica é central ao saneamento. A meta contempla:

  • Escopo 1: emissões diretas da operação, como combustíveis da frota, geradores, queimas controladas e processos das ETEs e ETAs.
  • Escopo 2: emissões indiretas associadas à energia elétrica comprada para movimentar e tratar água e esgoto.
  • Escopo 3: emissões indiretas na cadeia de valor, como transporte, insumos, fornecedores e, ainda, impactos relacionados ao esgoto não coletado e não tratado que dialogam com a responsabilidade ampliada do saneamento.

Em síntese, a meta posiciona o saneamento como cadeia integrada, e não apenas como operação isolada de ativos. Portanto, a redução exigirá decisões coordenadas em energia, compras, contratos, operação e manutenção.

Indicadores de intensidade: foco em eficiência no saneamento

Ainda que metas absolutas sejam importantes, a intensidade de emissões (tCO₂e por volume tratado) torna-se, cada vez mais, um indicador de qualidade da operação de saneamento. A queda projetada de intensidade nas ETEs demonstra que, além de ampliar tratamento, pretende-se fazê-lo com menos emissões por unidade de esgoto tratado. Consequentemente, a comparação entre unidades operacionais, regiões e tecnologias passa a ser mais objetiva e, ao mesmo tempo, mais orientada a resultados reais para o saneamento.

Energia e descarbonização: pilares práticos no saneamento

Em termos operacionais, o saneamento depende de energia para bombear, tratar, desidratar lodos e garantir padrões de qualidade. Portanto, as frentes mais úteis incluem:

  • Eficiência energética: verificação de curvas de bomba, implantação de inversores de frequência, setorização e gestão de pressão para reduzir perdas e consumo.
  • Autogeração e renováveis: fotovoltaico em áreas disponíveis, PPA de fonte eólica/solar, mini-hídrica em quedas e adutoras, além do aproveitamento de biogás em ETEs.
  • Gestão de ponta: telemetria, automação e controle avançado (ex.: otimização de aeração por sondas de OD e amônia), que reduzem energia por metro cúbico tratado no saneamento.
  • Química e processos: dosagem otimizada, escolha de coagulantes e polímeros com menor pegada, além de rotas de lodo que minimizem emissões fugitivas.

Dessa forma, o saneamento pode reduzir custos operacionais e, ao mesmo tempo, diminuir a pegada de carbono, fortalecendo a competitividade e o acesso a financiamentos verdes.

Universalização com clima: conciliar volume e emissões no saneamento

O compromisso de universalizar água e esgoto amplia a demanda por energia, insumos e manutenção. Logo, a grande pergunta do saneamento é: como tratar mais, atender mais e, ainda assim, emitir menos? A resposta, em grande medida, passa por métricas de intensidade aliadas a um portfólio de projetos de eficiência energética. Além disso, investimentos robustos em expansão de rede e ETEs, quando combinados a energia limpa e controle de metano, tendem a produzir os melhores resultados líquidos para o saneamento.

Gestão de metano: dor e oportunidade do saneamento

O metano possui alto potencial de aquecimento global e costuma aparecer em sistemas anaeróbios, lodos e emissões fugitivas de ETEs. Contudo, quando corretamente capturado e aproveitado como biogás, pode gerar energia e reduzir a necessidade de eletricidade da rede. Portanto, transformar uma dor em fonte energética é uma via eficaz de descarbonização no saneamento. Ademais, projetos de medição, registro e verificação (MRV) viabilizam créditos de carbono e abrem portas para modelos de financiamento alinhados ao clima.

Governança, dados e reporte: o alfabeto do ESG no saneamento

Relatórios transparentes de inventários, metas e trajetórias permitem que gestores de saneamento priorizem investimentos e mobilizem fornecedores. Aliás, exigir critérios de pegada de carbono em licitações e contratos amplia o alcance da descarbonização. Paralelamente, sistemas de dados confiáveis — com escopos separados, fatores de emissão atualizados e séries históricas — evitam vieses e melhoram a tomada de decisão. Assim, o saneamento avança em maturidade técnica e institucional.

Implicações práticas para profissionais do saneamento

  • Planejamento energético: integrar auditorias energéticas às revisões de macromedição e de setorização, priorizando estações com maior consumo específico.
  • Projetos de eficiência: pipeline com casos de negócio (CAPEX/OPEX), payback e impacto em tCO₂e, para seleção transparente e escalável no saneamento.
  • Operação orientada a dados: metas por unidade operacional, dashboards e incentivos atrelados a kWh/m³ e tCO₂e/m³.
  • Contratações ESG: cláusulas de desempenho e critérios de emissões em contratos de energia, químicos, manutenção e logística do saneamento.
  • Formação técnica: capacitações em controle de ar, aeração, digestão, secagem e cogeração, alinhando equipes aos objetivos climáticos do saneamento.

Desafios e riscos a monitorar no saneamento

Apesar dos avanços, permanecem riscos típicos: variabilidade tarifária e regulatória, volatilidade de preços de energia, maturidade tecnológica local, custos de manutenção de sistemas de biogás e, ainda, assimetria de dados entre unidades. Contudo, com governança robusta e portfólio diversificado, esses obstáculos tendem a ser mitigados. Portanto, a execução disciplinada, com revisões anuais de rota, torna-se determinante para o saneamento entregar resultado climático sustentável.

Conclusão: o que a meta sinaliza para o saneamento

Em última análise, a meta de 15% até 2035 indica que o saneamento caminha para integrar, de forma definitiva, eficiência energética, captura de metano e energia renovável à rotina de operação. Além disso, ao combinar intensidade de emissões, expansão de cobertura e governança de dados, cria-se um ciclo virtuoso: mais serviço público, menos emissões e melhor competitividade financeira. Portanto, o saneamento consolida-se como vetor de saúde pública e, ao mesmo tempo, de ação climática concreta.

Fontes