A Sabesp apresentou um plano robusto de investimentos em saneamento para a temporada de verão na região do litoral norte de São Paulo, contemplando cidades como Caraguatatuba, Ilhabela, Ubatuba e São Sebastião. O programa tem como meta estruturar o sistema de saneamento local de modo a absorver a elevação populacional, reforçar a oferta de água e elevar a cobertura da coleta e tratamento de esgoto.
Para profissionais do setor de saneamento, esse plano funciona como um estudo de caso relevante de como estruturar operações sazonais, articular logística, adotar tecnologias emergentes e garantir a continuidade dos serviços públicos de água e esgoto. A seguir, são apresentados os principais elementos técnicos, desafios e impactos práticos no âmbito do saneamento.
1. Panorama da operação de saneamento no litoral norte
A área contemplada possui mais de 200 praias e enfrenta aumento populacional de até 4,5 vezes durante a alta temporada. Esse tipo de demanda variável exige que os sistemas de saneamento, tanto de abastecimento de água quanto de esgotamento sanitário, sejam preparados para vigorosas flutuações de carga e consumo.
Além disso, o plano da Sabesp projeta investimentos superiores a R$ 2,3 bilhões até 2029, sendo cerca de R$ 1 bilhão em obras já em andamento. Trata-se do maior investimento em saneamento da história da região, o que evidencia o reconhecimento de que saneamento é infraestrutura estratégica, não apenas em época de crise ou de pico turístico, mas como pilar permanente para saúde pública, ambiente e qualidade de vida.
2. Principais obras e focos de intervenção em saneamento
Em Caraguatatuba foram investidos mais de R$ 178 milhões para ampliação de coleta e tratamento de esgoto em bairros como Jaraguazinho, Golfinhos, Martim de Sá, Terralão e Massaguaçu, beneficiando aproximadamente 42 mil pessoas. A estação de tratamento de água Guaxinduba também recebeu melhorias importantes para adequar o processo de tratamento de água e de lodo, aumentando a segurança operacional do saneamento na cidade.
Em Ilhabela, a primeira etapa do sistema de abastecimento Água Branca adicionou 75 litros por segundo à produção de água, com a implantação de um novo reservatório de 2 milhões de litros. O investimento, próximo a R$ 20 milhões, beneficia cerca de 60 mil pessoas e reforça diretamente o saneamento da ilha, que sofre forte pressão turística no verão. Na mesma cidade, o sistema de coleta e tratamento de esgoto no bairro Engenho d’Água recebeu cerca de R$ 26 milhões, somando aproximadamente R$ 45 milhões em intervenções relacionadas ao saneamento no arquipélago.
Em Ubatuba, a expansão da estação de tratamento de água Carolina acrescentou 300 litros por segundo à capacidade de captação e produção, beneficiando aproximadamente 60 mil pessoas. O investimento é da ordem de R$ 65,7 milhões, com uma segunda etapa prevista para 2026, consolidando o avanço do saneamento de água potável. Na área de esgoto, foram ampliadas a estação principal, o sistema de bombeamento e um reservatório adicional de 2 milhões de litros, somando mais de R$ 116 milhões investidos em saneamento de esgotamento sanitário.
Em São Sebastião, foram entregues reservatórios de água de 2 milhões de litros cada em São Francisco e Pontal da Cruz, além da conclusão de uma estação de tratamento de água modular em Boiçucanga. No esgotamento sanitário, a estação de tratamento e a elevatória de esgoto em Maresias consumiram cerca de R$ 29 milhões, beneficiando mais de 24 mil habitantes, dentro de um pacote de mais de R$ 35 milhões destinados ao saneamento do município.
Esses projetos demonstram que saneamento eficaz exige investimento simultâneo em abastecimento de água, esgotamento sanitário e tratamento, permitindo que todas as frentes avancem em conjunto para garantir funcionalidade e resiliência do sistema de saneamento como um todo.
3. Logística, operação e tecnologias aplicadas ao saneamento
Para garantir o desempenho do saneamento no verão, a Sabesp adotou reforço de pessoal em cerca de 30%, ampliou o uso de equipamentos e tecnologias e aprimorou a logística de intervenção. A estratégia combinou ações preventivas e corretivas, sempre com foco na continuidade dos serviços de saneamento em um cenário de grande pressão sobre a infraestrutura.
Entre as medidas técnicas adotadas no saneamento destacam-se:
- Limpeza de 241 estações elevatórias de esgoto, reduzindo o risco de extravasamentos e falhas operacionais.
- Lavagem de 475 km de redes coletoras, aumentando a capacidade hidráulica e prevenindo obstruções.
- Inspeção de mais de 8.400 ligações utilizando teste de corante e fumaça, para identificar ligações irregulares e entradas indevidas de água pluvial.
- Pesquisa de vazamentos invisíveis em 1.607 km de rede, contribuindo para a redução de perdas de água e para a eficiência do saneamento.
- Desassoreamento de 21 captações de água e limpeza e desinfecção de reservatórios, elevando a segurança da água distribuída.
- Operação com bicicletas elétricas para atendimento rápido em áreas congestionadas, agilizando respostas de campo do saneamento.
- Utilização de sensores radar para monitoramento de vazamentos em poços de visita em 78 pontos estratégicos da rede de esgoto.
- Reservatórios móveis em contêineres para armazenamento extra nos horários de pico de consumo.
- Estações móveis de tratamento de água em contêiner, com capacidade de 50 litros por segundo, para situações emergenciais.
Essas inovações reforçam que, no saneamento atual, não basta apenas infraestrutura pesada. É essencial aliar operação ágil, monitoramento em tempo real e equipamentos adaptados à variabilidade sazonal, especialmente em regiões litorâneas com forte turismo.
4. Desafios técnicos da sazonalidade no saneamento
O ambiente litorâneo apresenta desafios específicos para o saneamento, que exigem estratégia integrada e planejamento de longo prazo. No caso do litoral norte paulista, a forte variação populacional entre baixa e alta temporada exige capacidade de resposta adaptativa em todos os sistemas de saneamento.
Além disso, as chuvas intensas podem provocar quedas de energia e paralisar sistemas de bombeamento, impactando diretamente o saneamento de água e de esgoto. A entrada irregular de água pluvial nas redes de esgoto compromete o tratamento, aumenta o volume afluente nas estações e eleva o risco de extravasamentos. Deslizamentos de encostas podem romper tubulações estratégicas, exigindo planos de contingência e equipes de prontidão.
Outro ponto crítico do saneamento é o descarte incorreto de lixo na rede de esgoto, problematizado pela presença massiva de turistas. Resíduos sólidos lançados em vasos sanitários e ralos provocam obstruções, aumentam a necessidade de limpeza e reduzem a eficiência do sistema. Ao mesmo tempo, reservas insuficientes de água em reservatórios podem não suportar picos de consumo, impactando diretamente o abastecimento.
Para os profissionais do saneamento, isso significa que cada etapa – desde a captação, tratamento e distribuição de água, até a coleta, bombeamento e tratamento de esgoto – deve incorporar redundância, manutenção preventiva e protocolos claros de atuação em emergências. O monitoramento contínuo e a capacidade de adaptação operacional são cruciais para garantir que o sistema de saneamento responda de maneira adequada à dinâmica de demanda e a eventos extremos.
5. Impactos para o setor de saneamento e lições para replicação
Os resultados esperados desse plano de saneamento no litoral norte paulista trazem diversas lições para o setor, tanto para companhias públicas quanto privadas. Em primeiro lugar, a escala e o escopo dos investimentos demonstram que saneamento precisa ser tratado como prioridade estratégica e não como atividade secundária dentro da infraestrutura urbana.
Em segundo lugar, a combinação de obras estruturais com tecnologias móveis, sensores e sistemas de contingência mostra o caráter híbrido do saneamento contemporâneo. O uso de reservatórios móveis, estações modulares e equipamentos de monitoramento em tempo real permite ajustar a operação conforme a necessidade, mantendo a estabilidade do sistema mesmo em períodos de alta carga.
Outra lição importante para o saneamento é o planejamento antecipado. A preparação para o verão com meses de antecedência, envolvendo reforço de equipes, cronograma de manutenção preventiva e definição de protocolos de resposta rápida, reduz o risco de colapsos e melhora a percepção da população sobre a qualidade do serviço.
A meta de universalização do saneamento até 2029 na região exige um cronograma meticuloso, monitoramento rigoroso de indicadores e compromisso de implementação. Profissionais de saneamento que desejam replicar ou adaptar esse tipo de estratégia podem focar em mapear a variabilidade de demanda, identificar gargalos em abastecimento e esgotamento, dimensionar a infraestrutura com margem de segurança, incorporar tecnologias de monitoramento e estruturar planos de atendimento rápido e eficiente para picos ou falhas.
6. Conclusão: saneamento como eixo de desenvolvimento
O investimento maciço da Sabesp para reforçar o saneamento no litoral norte paulista evidencia como o setor pode – e deve – se antecipar aos desafios sazonais e estruturais. A combinação de obras robustas, tecnologias modernas e logística ágil fornece um modelo inspirador para outros operadores de água e esgoto em regiões turísticas ou com alta variabilidade de demanda.
Profissionais de saneamento podem observar esse exemplo como um guia de como estruturar sistemas resilientes, capazes de responder à dinâmica populacional, integrar captação, tratamento e distribuição de água, além de garantir coleta e tratamento eficaz de esgoto. Em última análise, esse plano reforça que saneamento não é apenas infraestrutura física: é a base para saúde pública, proteção ambiental e desenvolvimento sustentável de territórios inteiros.



