Brasil aposta em Privatizações e PPPs para universalizar

O setor de saneamento no Brasil vive um momento em que privatizações e Parcerias Público-Privadas (PPPs) são vistas como instrumentos centrais para viabilizar os grandes desafios de universalização. Conforme levantamento recente da BNAmericas, estima-se que o país precisa mobilizar cerca de R$ 900 bilhões em investimentos para alcançar cobertura plena dos serviços de água potável, coleta e tratamento de esgoto.

Por que privatizações e PPPs?

  • Eficiência operacional e inovação: empresas privadas ou mistas costumam trazer experiência, gestão profissional, inovação em processos operacionais e em modelos de atendimento. Essas competências se tornam mais visíveis em contratos bem estruturados, com metas claras de desempenho.
  • Alívio para os cofres públicos: ao transferir parte dos riscos e custos para o setor privado (ou compartilhar), o poder público pode priorizar recursos para regulação, fiscalização e políticas sociais.
  • Prazos e escala: para atingir metas do Marco Legal do Saneamento, como universalização até 2033, é necessário agir em grande escala e com rapidez. Modelos de concessão ou PPP possibilitam planos plurianuais de investimento, amortização e operações que superam o ciclo político local.

Exemplos no front

  • Em Goiás, já está em curso a modelagem de uma PPP para prover serviços de água para 217 municípios, com previsão de investimento de aproximadamente R$ 5,8 bilhões.
  • No estado do Amapá, a concessão da Concessionária de Saneamento (CSA Equatorial) é um caso de privatização estadual que abrange todos os municípios urbanos.
  • Em muitos outros estados há projetos em diferentes níveis de maturação – estudos técnicos, editais, leilões – mostrando que a agenda está avançando, ainda que com heterogeneidade regional.

Principais desafios para profissionais do setor

  1. Estrutura regulatória clara e segurança jurídica: sem normas de referência bem aplicadas, contratos bem delimitados e mecanismos de reequilíbrio, o risco percebido pelos investidores sobe, elevando o custo do capital ou inviabilizando propostas competitivas.
  2. Capacidade institucional: muitos municípios e até estados ainda não têm equipe técnica para preparar editais robustos, fiscalizar contratos ou monitorar desempenho. O apoio de instituições como o BNDES é vital.
  3. Justiça tarifária: garantir que tarifas sejam acessíveis exige mecanismos de subsídio ou políticas sociais para evitar que a privatização agrave desigualdades.
  4. Cumprimento de metas: é preciso que os prazos sejam respeitados, a qualidade assegurada e haja transparência no acompanhamento, com cláusulas de penalidades e auditoria independente.
  5. Regionalização e escala: consórcios municipais ou concessões regionais são caminhos para otimizar infraestrutura e aproveitar economias de escala.
  6. Financiamento adequado: além do capital privado, será necessário aporte público, incentivos fiscais e instrumentos de mercado de capitais, como debêntures de infraestrutura.

Conclusão

Se forem bem desenhadas e supervisionadas, as privatizações e PPPs têm potencial de ser catalisadores para acelerar a universalização do saneamento no Brasil. Elas podem destravar recursos que o setor público sozinho não conseguiria mobilizar. Contudo, custo elevado, risco regulatório, desigualdades tarifárias e capacidade técnica são nós que precisam ser desatados.

Para os profissionais do saneamento, o momento exige domínio de aspectos regulatórios, finanças de projetos, modelagem de contratos, monitoramento e engajamento institucional. Quem conseguir operar bem nessas áreas será peça chave nesse esforço de grande escala.