O mundo da água e do saneamento acaba de ganhar um novo marco. Israel anunciou que vai bombear água dessalinizada do Mar Mediterrâneo diretamente para o Mar da Galileia (Lago Kinneret) — seu maior reservatório natural de água doce, que enfrenta queda de nível devido a anos de estiagem e intensa evaporação. Trata-se de um “game changer” em gestão de recursos hídricos, capaz de inspirar países que sofrem com secas recorrentes, como o Brasil.
Segundo a New York Post, a operação começa com 5.000 m³/h no fim de outubro e pode alcançar 15.000 m³/h em novembro, garantindo dezenas de milhões de metros cúbicos por estação chuvosa. O investimento é de aproximadamente 1 bilhão de shekels e será executado pela estatal Mekorot, em parceria com a Autoridade da Água de Israel.
Como vai funcionar — passo a passo do mar ao lago
1) Captação e dessalinização no Mediterrâneo
A água é retirada do mar e passa por osmose reversa em grandes plantas costeiras como Ashdod e Hadera. Depois, é remineralizada para garantir padrões de potabilidade.
2) Reversão do Carrier Nacional
O famoso sistema que antes levava água do Kinneret para o sul agora opera no sentido contrário. Desde 2023, a infraestrutura foi modernizada para empurrar água dessalinizada rumo ao norte.
3) Transporte de longa distância
A água percorre 100 a 150 km até chegar ao Complexo Eshkol, onde passa por controle de qualidade e equalização.
4) Entrada pelo rio Zalmon
Em vez de despejar diretamente no lago, a água é conduzida ao rio Zalmon, afluente do Kinneret. Essa escolha favorece a mistura natural e ainda restaura o fluxo perene do rio, beneficiando fauna e flora.
5) Monitoramento constante
Sensores e estudos limnológicos acompanham temperatura, sais, nutrientes e ecossistema. Testes indicaram que os volumes planejados não causam impactos negativos ao lago.
6) Gestão por níveis críticos
O lago é regulado por faixas:
- Linha vermelha superior: risco de alagamento.
- Linha vermelha inferior: limite para parar a retirada de água.
- Linha negra: dano irreversível.
O objetivo é manter o lago no chamado “nível verde”, que preserva o equilíbrio ecológico.
Por que essa solução é estratégica?
Resiliência climática: reduz a dependência das chuvas, usando a dessalinização como fonte “climaticamente independente”.
Qualidade da água: níveis mais estáveis evitam florações indesejadas, melhorando o tratamento.
Diplomacia da água: garante também o fornecimento para países vizinhos, como a Jordânia, fortalecendo a segurança hídrica regional.
Reflexões para o Brasil
A experiência israelense mostra que reservatórios naturais podem funcionar como “baterias hídricas”, sendo recarregados artificialmente quando o clima falha. No Brasil, tecnologias como essa poderiam inspirar soluções em regiões que sofrem com estiagens severas — como o Nordeste, onde a integração de dessalinização e recarga de açudes estratégicos pode ser um caminho realista.



