Microsoft e Orbia reduzem perdas de água com IA e sensores em Campinas

>Contexto: por que atacar perdas de água agora

As perdas de água continuam entre os maiores entraves do abastecimento urbano: comprometem a segurança hídrica, corroem a saúde financeira e elevam o risco de racionamentos. Por isso, reduzir perdas de água deixou de ser apenas “boa prática” para tornar-se eixo estratégico de resiliência. Em Campinas (SP), uma parceria entre Microsoft, Orbia e SANASA foi estruturada exatamente para isso, combinando plataforma analítica, instrumentação e operação assistida por especialistas. O acordo tem horizonte de 10 anos e está ancorado na meta global da Microsoft de tornar-se “water positive” até 2030.

O que é a parceria e quais resultados já apareceram

O programa usa o serviço Water Network Management (WNM) da Orbia (com tecnologia TaKaDu) em nuvem para identificar eventos na rede — vazamentos, rompimentos, falhas de ativos e problemas de telemetria — e orientar decisões de campo. Em complemento, uma sala de controle em São Paulo, operada por engenheiros da Orbia, acompanha continuamente os alertas e apoia a priorização das equipes.

Resultados mensuráveis:

  • 370 mil m³ de “benefício volumétrico” entre jul/2024 e jun/2025 (≈151 piscinas olímpicas), já associados à redução de perdas de água e vazamentos.
  • Meta do 2º ano: 622 mil m³.
  • Meta de longo prazo: mais de 2,5 milhões m³ por ano poupados.

O projeto está no contexto da bacia PCJ, região que enfrentou sete secas na última década e que abastece mais de 70% da metrópole paulista — cenário que reforça a urgência de atacar perdas de água.

Como funciona na prática (passo a passo operacional)

Para quem está no dia a dia do saneamento, o valor está no “como”. A implementação típica no caso de Campinas segue uma linha de produção clara:

  1. Segmentação da rede (DMAs): a concessionária expande gradualmente District Metered Areas, criando zonas fechadas com medição confiável. Isso permite enxergar perdas de água por área e acelerar o diagnóstico.
  2. Instrumentação alvo: instalação de medidores de vazão e sensores de pressão em pontos críticos; telemetria alimenta o WNM em tempo real.
  3. Análise com IA: o WNM aplica aprendizado de máquina para detectar sinais precoces — desvios de vazão, quedas de pressão ou falhas — que indicam perdas de água invisíveis.
  4. Triagem em sala de controle: engenheiros validam os eventos, classificam o risco e despacham equipes. Essa etapa reduz o tempo de detecção e reação, dois KPIs decisivos para baixar perdas de água.
  5. Execução em campo: varredura acústica e reparos rápidos diminuem o tempo de vazamento ativo e as perdas de água reais.
  6. Ajuste de pressões: controle de PRVs e set-points reduz sobrepressões e microvazamentos.
  7. Verificação e aprendizado: após reparos, mede-se o ganho (queda de consumo noturno mínimo, normalização de pressões) e retroalimenta o WNM.

Indicadores que viram a chave

Embora cada companhia tenha seu painel, alguns indicadores concentram os maiores ganhos:

  • Mínimo Noturno (MNF) por DMA: queda sustentada indica redução real de perdas de água.
  • Tempo médio de detecção e de reparo: quanto menor, menos água se perde.
  • Índice de Água Não Faturada (ANF/NRW): traduz perdas de água em impacto financeiro.
  • Vazamentos recorrentes por 100 km de rede: mede qualidade da manutenção.
  • Pressão média e variabilidade: estabilidade significa menos microvazamentos e perdas de água.

Os números publicados para Campinas — 370 mil m³ no 1º ciclo, meta de 622 mil m³ no 2º e objetivo final acima de 2,5 milhões m³/ano — mostram que o modelo entrega ganhos progressivos e escaláveis de perdas de água quando DMAs, sensores e equipe madura convergem.

O que muda no CAPEX/OPEX da operação

Ao reduzir perdas de água, menos água tratada “evapora” antes do hidrômetro, melhorando margem operacional sem novos mananciais. Há postergação de CAPEX (novas captações/estações) e redução de OPEX (energia, produtos químicos, recomposição de pavimento). Esse efeito combinado é especialmente valioso em bacias estressadas como a PCJ.

Como replicar em outras cidades (checklist prático)

  • Diagnosticar perdas de água atuais por macro e micromedição.
  • Planejar DMAs e sensores; iniciar pequeno e expandir.
  • Selecionar plataforma com detecção preditiva e dashboards.
  • Criar célula de controle com metas de SLA para eventos de perdas de água.
  • Padronizar planos de resposta em campo.
  • Reportar mensalmente ganhos e reinvestir economias.

Por que isso importa além do município

A parceria se alinha à meta de water positivity até 2030, que exige projetos de reposição e redução de perdas de água em localidades prioritárias. Em um cenário de secas frequentes e infraestrutura envelhecida, iniciativas com métricas claras e contratos de longo prazo tendem a dominar a agenda de políticas públicas.

Fontes