Saneamento rural: os 13 eixos do II Sanea Brasil que vão transformar o setor

1) Contexto e importância para o saneamento

O II Sanea Brasil – Congresso Internacional de saneamento rural, que ocorre de 29 a 31 de outubro de 2025 em Petrolina (PE), reúne técnicos, gestores, pesquisadores e empresas para tratar de soluções aplicáveis ao saneamento em áreas rurais. Como essas áreas têm baixa densidade populacional, longas distâncias e receitas tarifárias mais limitadas, o CAPEX e o OPEX tendem a ser maiores, o que exige escolhas tecnológicas e institucionais muito criteriosas. Assim, o evento busca alinhar ciência, tecnologia, financiamento e políticas públicas para acelerar a universalização do saneamento, especialmente diante das mudanças climáticas e da necessidade de resiliência operacional.

2) Inscrições e submissão de trabalhos

  • Inscrições: As inscrições, com taxas que variam entre R$40 a R$120, podem ser realizadas no site do evento até o dia 30 de outubro.
  • Formato: programação com painéis, minicursos, apresentações técnicas, estandes e visitas, favorecendo a troca prática de soluções de saneamento rural.

3) Os 13 eixos temáticos do congresso (resumo executivo)

Os eixos abaixo sintetizam as frentes de debate e direcionam o desenho de projetos e políticas de saneamento rural.

Eixo Tema Foco técnico para o saneamento rural
1 – Mudanças Climáticas Clima & resiliência Impactos de secas/cheias sobre captação, distribuição e tratamento; adaptação baseada em risco para saneamento rural.
2 – Saneamento Estruturante Gestão & políticas Regulação, tarifas, financiamento e arranjos institucionais adequados ao contexto rural do saneamento.
3 – Tecnologias de Abastecimento de Água Soluções de acesso Captação de chuva, dessalinização, filtração, monitoramento de qualidade e operação simplificada.
4 – Manejo de Águas Pluviais Drenagem sustentável Práticas de infiltração, controle de erosão, valas e aproveitamento de água de chuva no saneamento rural.
5 – Esgotamento Sanitário Tratamento descentralizado Fossas sépticas, wetlands, biodigestores, redes simplificadas e reúso seguro de efluentes tratados.
6 – Resíduos Sólidos Gestão e reaproveitamento Estratégias de coleta seletiva, compostagem, logística reversa e reaproveitamento no meio rural; governança comunitária e economia circular integrada ao saneamento.
7 – Desenvolvimento Sustentável ESG & ODS Indicadores sociais, ambientais e econômicos que conectam saneamento, saúde, educação e produtividade rural.
8 – Mobilização e Participação Social Engajamento comunitário Metodologias participativas, controle social e manutenção comunitária de sistemas de saneamento.
9 – Tecnologias Digitais Digitalização Geoprocessamento, IoT e automação para monitoramento, detecção de falhas e eficiência operacional do saneamento.
10 – Saúde Pública e Controle de Vetores Interface saúde–saneamento Doenças de veiculação hídrica, vigilância sanitária e indicadores epidemiológicos em comunidades rurais.
11 – Energia Eficiência & biogás Eficiência energética em sistemas e biodigestão para reduzir custos do saneamento.
12 – Agricultura Integração produtiva Uso de efluentes tratados e biossólidos na irrigação e fertilização; proteção do solo e segurança alimentar.
13 – Governança da Área Rural Arranjos cooperativos Consórcios, blocos regionais e coordenação federativa para prestação de saneamento e serviços compartilhados.

4) Oportunidades e desafios no evento

Oportunidades: atualização técnica, vitrine de soluções e networking direcionado a projetos de saneamento com foco em clima, digitalização, eficiência energética e economia circular. Além disso, a integração de academia, setor público e iniciativa privada encurta o ciclo entre pesquisa e implantação.

Desafios: transformar diretrizes em portfólios bancáveis e operacionalmente sustentáveis; garantir capacitação local contínua; padronizar indicadores e rotinas de operação e manutenção (O&M); e, sobretudo, assegurar a governança e a previsibilidade de receitas para a longevidade dos sistemas de saneamento rural.

5) Relevância prática para o profissional de saneamento

  • Referência regulatória: debates sobre políticas e regulação adaptadas ao rural.
  • Seleção tecnológica: critérios para escolher soluções de água, esgoto, resíduos e drenagem com O&M viável.
  • Gestão de risco climático: diagnóstico de exposição, redundâncias e planos de contingência.
  • Escalabilidade: modelos modulares, cooperativos e de compras regionais para reduzir custos do saneamento.

6) Principais desafios técnicos do saneamento rural (dados embasados)

  1. Baixa cobertura de água no rural: em 2023, 32,3% dos domicílios rurais eram abastecidos por rede geral (urbanos: 93,4%); no Nordeste rural, o índice foi de 43,9%. Isso impõe uso de poços, cisternas e outras fontes, elevando o risco de intermitência e de contaminação quando o controle de qualidade é insuficiente.
  2. Gap no esgotamento sanitário: em 2022, a rede coletora atendia 62,5% da população brasileira. Para universalizar, é preciso conectar mais de 55 milhões de pessoas, sendo cerca de 36% em áreas rurais, onde a dispersão populacional encarece redes e ETEs convencionais.
  3. Perdas de água elevadas: estimativas federais recentes apontam perdas médias na distribuição em torno de 39,9%. Esse patamar reduz disponibilidade hídrica, pressiona custos e dificulta a expansão segura do saneamento rural.
  4. Intermitência e qualidade de serviço: mesmo entre domicílios atendidos por rede, aproximadamente 88,4% recebem água diariamente; o restante enfrenta descontinuidades, exigindo reservação domiciliar e elevando o risco de contaminação por más práticas de armazenamento.
  5. Limitações históricas de dados do rural: a transição do SNIS para o SINISA melhora o recorte rural, mas ainda há desafios de padronização, séries históricas e cobertura de microssistemas autônomos, o que impacta diagnósticos e metas municipais de saneamento.
  6. Vulnerabilidade socioambiental: déficits mais agudos em domicílios rurais dispersos e em comunidades tradicionais (por exemplo, quilombolas) exigem soluções culturalmente adequadas, de operação simples e assistência técnica recorrente.
  7. Financiamento e O&M: além do investimento inicial, o gargalo está no custeio e na manutenção. Sem operação local treinada, contratos de suporte e estoques mínimos, sistemas descentralizados perdem desempenho rapidamente.
  8. Clima extremo e resiliência de ativos: secas prolongadas e cheias afetam captações, adutoras vicinais e pequenas ETEs; portanto, dimensionar redundâncias, diversificar fontes e proteger infraestruturas críticas é essencial ao saneamento rural.

Implicações práticas: priorizar desenho modular/descentralizado; adotar padrões construtivos compatíveis com O&M local; incorporar telemetria simples para nível/qualidade; promover educação sanitária contínua; e firmar arranjos de governança que assegurem receitas e assistência técnica, garantindo a sustentabilidade do saneamento no campo.

7) Conclusão

Com inscrições acessíveis e agenda ampla, o II Sanea Brasil posiciona o saneamento rural no centro da agenda técnica. Ao organizar 13 eixos, consolidar dados recentes e destacar desafios reais — cobertura, esgoto, perdas, intermitência, dados, vulnerabilidade, financiamento e clima — o congresso oferece um roteiro concreto para transformar evidências em obras e serviços sustentáveis. Em síntese, quem atua em saneamento terá, aqui, insumos práticos para priorizar investimentos, escolher tecnologias e estruturar modelos institucionais adaptados às realidades do campo.

Fontes (links clicáveis)