O saneamento do futuro não será feito apenas de estações de tratamento convencionais. Soluções baseadas na natureza (SbN) e tecnologias ecológicas vêm ganhando espaço em zonas rurais, comunidades isoladas e até mesmo em áreas urbanas, onde a rede coletora é cara ou inviável.
Documentos como o Compendium of Sanitation Systems and Technologies da Eawag e guias da GIZ já consolidaram boas práticas de projeto, operação e manutenção dessas soluções.
Wetlands construídos
São sistemas alagados artificiais com plantas aquáticas (como taboas e juncos) que promovem a remoção de matéria orgânica, nutrientes e patógenos. Trabalham com baixo consumo energético e alta eficiência.
Estudos brasileiros e internacionais relatam remoções de 90% de DBO e 88% de SST em arranjos bem dimensionados.
Filtros de bioareia
São versões melhoradas da filtração lenta, que usam um biofilme natural (schmutzdecke) para remover turbidez e patógenos.
Embora sejam mais usados para tratamento de água e águas cinzas, podem atuar como pós-tratamento descentralizado em pequenas comunidades.
Ecosan (Saneamento ecológico)
Saneamento que separa na fonte (urina/fezes), reduz uso de água e valoriza nutrientes via compostagem. É a chamada toalete seca com desvio de urina (UDDT).
Um dos maiores cases globais é de Durban (África do Sul), onde milhares de casas receberam UDDTs, mostrando que a aceitação social e a gestão de subprodutos são tão importantes quanto a engenharia.
Círculo de bananeiras
Técnica de permacultura que utiliza um “berço” de bananeiras e outras plantas para infiltrar e tratar águas cinzas de cozinhas e chuveiros. Além do tratamento, gera paisagismo produtivo e contribui para recarga do solo.
Casos Reais
- Brasil:
- ETE VogVille (BA) — Wetland + UASB, com resultados dentro dos padrões de lançamento.
- Sanepar (PR) — inclui wetlands em suas especificações técnicas (ex.: ETE Palotina, 30 L/s).
- Ilha Grande (RJ) — projeto Fiocruz de wetlands para comunidades isoladas.
- Internacional:
- City of Phoenix (EUA) — uso de IA em inspeções aliado a wetlands compactos.
- Durban (África do Sul) — programa de UDDTs (Ecosan) para milhares de residências.
- BRK Ambiental (Brasil) — uso de design automatizado (Transcend) em ETEs, acelerando projetos de wetlands e filtros naturais.
Como companhias de saneamento podem usar essas tecnologias
- Planejar onde a rede convencional é inviável: usar wetlands, ecosan e círculos de bananeiras em comunidades rurais ou áreas de baixa densidade.
- Criar kits padronizados: especificações técnicas simples (wetlands de 5 a 60 L/s; filtros de bioareia comunitários; UDDTs com gestão de coleta).
- Integrar OPEX baixo em contratos: medir DBO, SST, energia consumida e custo por ligação para comprovar eficiência.
- Aproveitar subprodutos: uso de águas cinzas para irrigação e nutrientes da urina para agricultura familiar, sempre com segurança sanitária.
As tecnologias ecológicas — wetlands, bioareia, ecosan e círculo de bananeiras — não substituem ETEs convencionais, mas complementam a universalização do esgotamento sanitário. Elas reduzem custos, aumentam a resiliência climática, geram benefícios ambientais e sociais e aceleram o caminho para os 99% de água potável e 90% de esgoto tratado até 2033.



