Nordeste em alerta hídrico: 26% dos reservatórios no Nordeste estão abaixo de 20%

Contexto hidrológico e o sinal amarelo para o saneamento

Dados recentes indicam que, dos 543 reservatórios monitorados no Nordeste, 141 (26%) operam com menos de 20% da capacidade útil. O quadro é mais grave na Paraíba (48 reservatórios), em Pernambuco (35), no Ceará (31) e no Rio Grande do Norte (19). Além disso, Piauí (4) e Bahia (4) também registram volumes críticos. Em termos de saneamento, essa condição pressiona a confiabilidade do abastecimento, eleva custos de operação e exige coordenação fina entre recursos hídricos e operações urbanas.

Por que os níveis estão baixos e o que isso significa para o saneamento

A combinação de chuvas abaixo da média com alta evapotranspiração no semiárido reduz a recarga e acelera o esvaziamento do volume útil. Consequentemente, sistemas de saneamento enfrentam menor disponibilidade de água bruta, piora sazonal da qualidade (turbidez, matéria orgânica, florações algais, manganês e ferro) e maior esforço de bombeamento fora do ponto de melhor eficiência. Portanto, o consumo específico de energia (kWh/m³) cresce e o custo por metro cúbico produzido aumenta, afetando diretamente o saneamento urbano.

Indicadores essenciais para gerir o saneamento em estiagem

  • Volume útil (%) por reservatório com tendência de 7, 30 e 90 dias.
  • Vazão afluente (m³/s) e precipitação acumulada por bacia, para antecipar cenários de operação do saneamento.
  • Índice de Reservatórios Críticos (IRC): proporção de mananciais < 20% que impactam cada sistema.
  • Custo energético específico (kWh/m³) por captação e por adução, comparando alternativas.
  • Qualidade da água bruta (cor, turbidez, clorofila-a, Mn, Fe, geosmina/MIB) com gatilhos de ajuste em ETA.
  • Índice de perdas na distribuição e consumo per capita (L/hab.dia), pois ganhos de eficiência aliviam o saneamento sem novos mananciais.

Medidas imediatas (0–30 dias) para proteger o saneamento

  • Recalibrar regras operativas priorizando captação para consumo humano e dessedentação animal.
  • Rebaixar bocais de sucção, garantir NPSH adequado e evitar cavitação em conjuntos motobomba.
  • Ajustar tratamento com jar-test diário, auxiliares de coagulação e, quando necessário, carvão ativado.
  • Implementar plano de comunicação sobre uso racional, horários de pico e combate ao desperdício.
  • Adotar rodízio técnico e setorização com válvulas redutoras para controlar pressões e vazamentos.
  • Executar inspeção ativa de perdas (geofonamento, correlacionadores, loggers de pressão e ruído).

Medidas de curto prazo (30–90 dias) com foco em eficiência do saneamento

  • Interligar sistemas próximos para flexibilizar operação e reduzir risco local no saneamento.
  • Implantar poços emergenciais com monitoramento hidroquímico e controle de extração.
  • Negociar demanda interruptível e ajustar janelas de bombeamento para horas de menor tarifa.
  • Trocar hidrômetros antigos, priorizando grandes consumidores, para recuperar receitas e aliviar o saneamento.
  • Realizar operação “caça-fraudes” com analytics, cruzamento cadastral e inspeções de campo.

Medidas estruturantes (90–180 dias) para resiliência do saneamento

  • Atualizar o Plano de Segurança da Água com cenário de seca severa e barreiras múltiplas.
  • Expandir automação e telemetria de nível, vazão e qualidade em tempo real com alarmes operacionais.
  • Requalificar ETAs para água de pior qualidade: pré-oxidação, flotação por ar dissolvido e by-pass inteligente.
  • Escalar reuso não potável urbano e industrial, liberando água potável e fortalecendo o saneamento.
  • Planejar captações alternativas moduláveis (ex.: dessalinização costeira, reativação de barragens menores) com análise OPEX/Capex.

Como priorizar quando 26% dos reservatórios estão críticos

  1. Risco ao abastecimento: priorizar sistemas com único manancial e baixa redundância.
  2. Custo marginal de água adicional: atacar perdas e gestão da demanda antes de novas captações.
  3. Tempo de implementação: separar ações de efeito imediato daquelas que exigem 3–6 meses.

Um portfólio balanceado, portanto, combina eficiência operacional, controle de perdas e comunicação ativa. Assim, o saneamento mantém níveis de serviço mesmo em estiagens prolongadas.

Riscos técnicos e mitigação no saneamento

  • Cianobactérias e odores: monitorar clorofila-a e toxinas; aplicar pré-oxidação moderada e carvão ativado.
  • Metais e sedimentos: usar sucção móvel, executar batimetria rápida e purgas controladas em adutoras.
  • Intermitência: preservar pressões mínimas; se houver rodízio, publicar janelas e reforçar cloração final.
  • Energia: ajustar a ordem de bombas conforme altura manométrica para manter melhor eficiência e reduzir custos do saneamento.

Financiamento e governança para sustentar o saneamento

  • Instalar comitê de crise com matriz RACI, atas e transparência de indicadores do saneamento.
  • Destinar orçamento extraordinário a perdas, automação e serviços emergenciais.
  • Aplicar mecanismos tarifários temporários, quando previstos, com comunicação clara à sociedade.
  • Integrar ações com órgãos de recursos hídricos e defesa civil para priorização de usos.

Conclusão: eficiência e ação coordenada no saneamento

O cenário de 26% dos reservatórios do Nordeste abaixo de 20% exige resposta técnica imediata. Ao combinar monitoramento intensivo, operação inteligente, redução agressiva de perdas e comunicação transparente, as companhias preservam qualidade, controlam custos e mantêm o objetivo central do saneamento: abastecimento confiável, seguro e sustentável para a população. Dessa forma, o saneamento sai mais moderno, mais eficiente e mais preparado para o próximo ciclo de estiagem.

Fontes (com links clicáveis)