>A maior usina de dessalinização do Brasil avança no Ceará
O estado do Ceará deu um passo histórico para o fortalecimento do saneamento nacional com a concessão da Licença de Instalação para o projeto de dessalinização de água do mar, conduzido pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Com investimento total estimado em R$ 3,1 bilhões, a iniciativa será executada em parceria com o Consórcio Águas de Fortaleza, e marca uma das mais relevantes obras de infraestrutura hídrica do país nas últimas décadas.
O empreendimento, conhecido como Dessal do Ceará, foi autorizado pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e está pronto para iniciar suas obras civis. A planta deverá ser instalada estrategicamente na região litorânea de Fortaleza, com ajustes técnicos para evitar interferências em cabos submarinos e outras infraestruturas sensíveis, o que demonstra o rigor técnico e ambiental do projeto.
Capacidade, tecnologia e impacto social
A usina de dessalinização terá capacidade inicial para atender cerca de 720 mil pessoas na Região Metropolitana de Fortaleza, o que equivale a aproximadamente 240 mil famílias. Essa produção representa um avanço significativo para o sistema de saneamento local, pois garantirá o abastecimento de água mesmo em períodos de estiagem prolongada — uma realidade frequente no semiárido nordestino.
O projeto inclui unidades de captação no mar, sistemas de osmose reversa, tratamento pós-dessalinização e manejo controlado de rejeitos. Além disso, prevê programas contínuos de monitoramento ambiental e de qualidade da água, assegurando que o processo de dessalinização ocorra de forma sustentável, sem comprometer o ecossistema costeiro.
Saneamento, inovação e resiliência hídrica
O saneamento no Ceará ganha um novo patamar com essa iniciativa. A estratégia da Cagece é fortalecer a resiliência hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza, reduzindo a dependência exclusiva dos mananciais interiores, que sofrem com a irregularidade das chuvas e a pressão do crescimento populacional.
Ao diversificar as fontes de abastecimento, o Ceará passa a integrar o grupo de estados que adotam tecnologias de ponta para garantir segurança hídrica, aliando inovação, sustentabilidade e eficiência operacional. Esse tipo de obra reforça o conceito de saneamento integrado, onde o planejamento hídrico é tratado de forma sistêmica e preventiva.
A tecnologia da osmose reversa e seus benefícios
A tecnologia de osmose reversa é o coração do sistema de dessalinização. Por meio dela, a água do mar é forçada a atravessar membranas semipermeáveis que retêm o sal e outras impurezas, gerando água potável com qualidade superior às normas nacionais de potabilidade.
Essa técnica, amplamente utilizada em países como Israel, Arábia Saudita e Austrália, vem se mostrando altamente eficiente e escalável. No caso cearense, a adoção desse sistema coloca o estado como referência em saneamento e inovação tecnológica, mostrando que a dessalinização é uma solução viável para o semiárido brasileiro.
Além de fornecer água segura, a usina também permitirá maior estabilidade operacional para o sistema de saneamento, diminuindo os custos com transporte e operação de açudes e adutoras em longas distâncias.
Gestão de rejeitos e monitoramento ambiental
Outro ponto de destaque é o tratamento dos rejeitos salinos, etapa crítica em projetos de dessalinização. A Cagece e o consórcio executor planejam sistemas de disposição controlada e diluição gradual no mar, respeitando parâmetros ambientais rigorosos.
O projeto prevê também monitoramento contínuo da salinidade, temperatura e composição química da água nas áreas de descarte, garantindo que o processo mantenha equilíbrio ecológico e não gere impactos negativos sobre a fauna e flora marinha. Esse compromisso reforça a importância do saneamento ambientalmente responsável, cada vez mais exigido pelos órgãos reguladores e pela sociedade.
Desafios e oportunidades para o setor de saneamento
A implantação da usina representa um avanço estratégico para o saneamento brasileiro, mas também traz desafios. O alto custo energético e a gestão sustentável dos rejeitos são pontos críticos que demandam planejamento e inovação contínua.
Por outro lado, o potencial de replicação do modelo em outros estados do Nordeste é enorme. Cidades como Natal, Maceió e Salvador já estudam alternativas de dessalinização para enfrentar o avanço da escassez hídrica. A experiência cearense poderá servir de laboratório nacional para soluções integradas de abastecimento, eficiência energética e uso racional dos recursos naturais.
Integração com políticas de saneamento e segurança hídrica
O saneamento moderno não pode ser visto isoladamente. O projeto do Ceará integra-se às metas do Novo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/2020), que estimula a universalização dos serviços e a redução das desigualdades regionais.
A obra também reforça os compromissos do Brasil com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 6, que visa garantir disponibilidade e gestão sustentável da água e do saneamento para todos.
Com isso, o Ceará se destaca como exemplo de planejamento integrado, combinando investimento público-privado, inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental.
Conclusão
O projeto de dessalinização do mar no Ceará é um marco para o saneamento brasileiro. Mais do que uma obra de engenharia, trata-se de uma mudança estrutural na forma como o país encara a gestão da água em regiões vulneráveis.
Com R$ 3,1 bilhões em investimentos, tecnologia de ponta e foco em sustentabilidade, o Ceará assume a dianteira em resiliência hídrica, eficiência operacional e inovação no saneamento, inspirando outros estados a seguirem o mesmo caminho.



