Apagão nacional compromete o abastecimento de água em São Paulo

Em grande escala, o apagão nacional ocorrido durante a madrugada de 14 de outubro de 2025 atingiu todo o Brasil — incluindo o estado de São Paulo — e gerou impactos diretos no abastecimento de água potável via sistemas de saneamento estruturados. Segundo a Sabesp, a Estação Elevatória Santa Inês, componente essencial do Sistema Cantareira, teve sua operação interrompida, afetando bairros da capital paulista e cidades vizinhas.

Para o profissional de saneamento, este episódio serve como alerta: mesmo serviços considerados básicos podem se fragilizar diante de falhas no sistema elétrico, o que demanda planejamento, resiliência e melhorias técnicas no setor de saneamento.

Cenário técnico e impactos sobre o saneamento

1. A falha elétrica e sua repercussão no sistema de bombeamento

A Estação Elevatória Santa Inês é responsável por bombear água bruta captada do Sistema Cantareira até as estações de tratamento, integrando o ciclo operacional do saneamento. Com o desligamento provocado pelo apagão, o bombeamento cessou, interrompendo a alimentação das ETAs (Estações de Tratamento de Água). Sem energia, reservatórios intermediários baixos rapidamente se esgotam ou caem abaixo de níveis operacionais, comprometendo o abastecimento.

Quando a energia foi restabelecida, o retorno ao funcionamento normal dependeu de tempo para a recomposição hidráulica — ou seja, o sistema teve que reencher adutoras, encher reservatórios e estabilizar pressões para que o saneamento se restabelecesse integralmente. Até a manhã do dia 15 de outubro, o fornecimento ainda estava em recuperação.

2. Áreas e magnitude do impacto

Bairros nas zonas Norte, Leste, Sul, Oeste e regiões centrais da cidade de São Paulo foram atingidos, com abastecimento reduzido ou interrompido em locais como Cangaíba, Mooca, Vila Alpina, Jabaquara, Vila Romana, Brás e Cursino.

Municípios da Grande São Paulo como Guarulhos, Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato também sofreram interrupções de distribuição de água, ampliando o impacto sobre o sistema de saneamento regional.

3. Contexto hídrico agravante

Antes mesmo do apagão, o estado de São Paulo vinha enfrentando queda expressiva nos níveis de seus reservatórios. Entre 7 de setembro e 7 de outubro de 2025, o Sistema Integrado Metropolitano perdeu 5,6% de seu volume, com mais de 100 milhões de m³ a menos. Os mananciais mais críticos incluíram o Cantareira, com queda de 6,2%, e outros sistemas como Cotia e Rio Claro, com perdas superiores a 7-8%.

Esse cenário de menor reserva hidráulica torna o sistema de abastecimento mais vulnerável a interrupções, demandando pronta recuperação e estratégias emergenciais ante falhas externas. O saneamento precisa, portanto, ser pensado de forma integrada à gestão de energia e clima.

Lições para o setor de saneamento

A. Manutenção de contingências elétricas

É fundamental que empresas de saneamento implantem sistemas alternativos de energia, como geradores diesel, acionamentos a gás ou sistemas híbridos, para manter bombas e turbinas operando em eventos críticos. Esse tipo de redundância reduz o risco de interrupção no ciclo do saneamento.

B. Reservatórios de amarração e pressurização estratégica

Projetos de saneamento devem incluir reservatórios elevados com autonomia suficiente para suprir demanda em períodos de falta elétrica, além de sistemas de pressurização automática que permitam manutenção interna sem colapso imediato da rede.

C. Monitoramento e automação

Empregos de sensores de nível, telemetria e controle remoto permitem que operadores reajam rapidamente a falhas de energia, isolando trechos críticos, ajustando bombas e acionando planos de contingência. Isso fortalece o sistema de saneamento frente a eventos externos.

D. Planejamento integrado entre energia e saneamento

Conforme o apagão evidenciou, os setores energético e de saneamento são interdependentes. É essencial que operadoras de saneamento dialoguem com operadores elétricos para obter previsibilidade de indisponibilidades, acordos de prioridade nos sistemas de restabelecimento e ações conjuntas em emergências.

E. Comunicação e apoio à população

Em eventos de interrupção, comunicar usuários com clareza sobre a situação, estimativa de normalização e recomendações de uso de água é uma prática indispensável. Inclusive, orientar a população a reservar volumes mínimos para consumo prioritário em situações emergenciais fortalece a resiliência local e a confiança no sistema de saneamento.

Conclusão e recomendações prioritárias

O apagão nacional de 14 de outubro de 2025 evidenciou o grau de vulnerabilidade dos sistemas de saneamento diante da instabilidade energética. Embora muitas interrupções do setor sejam tratadas internamente como “ocorrências operacionais”, este evento mostrou que choques externos podem comprometer serviços que a sociedade considera básicos.

Para prevenir ocorrências similares, operadores de saneamento devem elevar o grau de robustez do sistema com:

  • Redundância elétrica e fontes alternativas;
  • Reservatórios de suporte dimensionados;
  • Automação e monitoramento em tempo real;
  • Integração com operadoras elétricas;
  • Estratégias de comunicação de crise.

Com essas medidas, o setor de saneamento poderá aumentar sua resiliência, garantindo que o abastecimento de água e o tratamento permaneçam o mais previsível possível, mesmo diante de falhas externas.

Fontes consultadas