O avanço do saneamento em Mato Grosso do Sul, com a SANESUL anunciando 72,34% de cobertura de esgoto, reaquece o debate sobre desempenho das grandes operadoras do país.
Para profissionais do saneamento, mais do que números, interessa compreender os critérios de medição, os desafios estruturais e, sobretudo, as estratégias de gestão e engenharia que aceleram a universalização do saneamento.
Este artigo organiza um comparativo entre companhias, destaca as práticas recentes da SANESUL e propõe lições aplicáveis a diferentes contextos do saneamento.
Como comparar corretamente no saneamento
Antes da tabela, três alertas importantes para quem atua em saneamento:
(1) algumas empresas reportam “cobertura de coleta de esgoto”, enquanto outras comunicam “coleta + tratamento”;
(2) há diferenças de escopo geográfico (capital, região metropolitana ou toda a área atendida);
(3) relatórios corporativos e estudos baseados no SINISA/Trata Brasil utilizam recortes distintos e anos-base diferentes.
Logo, a leitura técnica deve considerar atentamente o campo “Observações”, evitando decisões de saneamento com métricas não equivalentes.
Tabela comparativa — cobertura de esgoto por companhia
Definição de leitura: “Cobertura” abaixo refere-se ao indicador divulgado por cada companhia para a sua área de atuação (salvo indicação diversa nas Observações).
| Companhia (UF-sede) | Cobertura de esgoto (%) | Ano base | Observações técnicas |
|---|---|---|---|
| SANESUL (MS) | 72,34 | 2025 | Dado oficial divulgado pela companhia para a área estadual operada. |
| SABESP (SP) | 93 | 2023 | Indicador de coleta reportado em documento corporativo; tratamento em patamar inferior. |
| SANEPAR (PR) | 82 | 2025 | Comunicação institucional aponta cobertura agregada (coleta e tratamento) nos municípios atendidos. |
| COPASA (MG) | 77,3 | 2024 | Índice “global” informado (coleta + tratamento) para a base atendida. |
| EMBASA (BA) | ≈52 | 2020–2024 | Conteúdo institucional estadual; capital e RM podem apresentar patamares distintos. |
| CAGECE (CE) | 46,1 | 2023 | Indicador estadual; Fortaleza isoladamente exibe valores superiores. |
| CASAN (SC) | ≈32–34 | 2022–2025 | Relatórios e ratings indicam baixa cobertura ainda em expansão até 2033. |
| COSANPA (PA) | 14,46 | 2023 | Índice de cobertura de esgoto reportado em relatório de administração. |
Leitura técnica: SABESP e SANEPAR operam contextos urbanos adensados e com histórico de CAPEX robusto, o que tende a elevar a cobertura de saneamento.
A SANESUL, com 72,34%, supera a média nacional recente e mostra tração em municípios de portes diversos – desafio comum no saneamento estadual.
COPASA mantém patamar intermediário com comunicação “global”, enquanto EMBASA, CAGECE, CASAN e COSANPA ilustram heterogeneidade do saneamento fora dos polos mais maduros, exigindo soluções por fases.
O que o comparativo ensina para a gestão
- Padronizar métricas: explicitar se o KPI é coleta ou coleta + tratamento, a área (capital, RM, estado) e o ano-base. Essa disciplina melhora decisões de saneamento.
- Atacar “municípios gargalo”: priorizar CAPEX onde a base é menor gera ganhos marginais altos e acelera a média do saneamento.
- CAPEX atrelado ao OPEX: expansão de rede deve vir com plano de operação e manutenção, tarifa regulatória compatível e contratos sustentáveis em saneamento.
- Modelos híbridos: PPPs, concessões regionais e arranjos por bacias ajudam a viabilizar o saneamento em contextos de baixa densidade.
- Transparência ativa: dashboards com metodologia, série histórica e metas aumentam a confiança e qualificam o debate técnico do saneamento.
Estratégias recentes da SANESUL rumo à universalização
A SANESUL tem utilizado um pacote coerente para acelerar o saneamento:
- Projetos estruturantes: novas ETEs, coletores-tronco, emissários e redes em cidades de menor cobertura, elevando rapidamente o índice local.
- Abordagem municipalista: atuação coordenada com prefeituras nos 68 municípios operados, destravando licenças e frentes de obra.
- Metas antecipadas do Marco Legal: planejamento e execução contínua para atingir a universalização do saneamento antes do prazo legal.
- Financiamento escalonado: combinação de recursos próprios, linhas públicas e parcerias para dar previsibilidade às entregas de saneamento.
- Operação sustentável: expansão acompanhada de O&M, estoques e equipes capacitadas, reduzindo perdas de performance no saneamento.
Conclusão
O retrato corporativo confirma a assimetria do saneamento no Brasil.
Enquanto SABESP e SANEPAR operam próximo da universalização em coleta, a SANESUL demonstra que, mesmo em um estado heterogêneo, é possível superar a média nacional com estratégia, governança e execução disciplinada em saneamento.
Para companhias em estágios intermediários (COPASA, EMBASA, CAGECE, CASAN, COSANPA), a combinação de portfólio tecnológico (rede convencional, condominial, soluções descentralizadas), priorização de gargalos e transparência regulatória tende a acelerar a trajetória rumo à universalização do saneamento.
Fontes (links clicáveis)
- SANESUL — MS atinge 72,34% de cobertura de esgoto
- Instituto Trata Brasil — Ranking do Saneamento 2025 (resumo executivo, base SINISA)
- Instituto Trata Brasil — Estudo completo 2025 (metodologia e indicadores)
- Governo Federal — SINISA: Relatório de Esgotamento Sanitário 2024
- SABESP — RI (Demonstrações Financeiras e Indicadores Operacionais)
- SANEPAR — RI (Relatórios e Indicadores)
- COPASA — RI (Relatórios e Indicadores)
- EMBASA — Portal institucional
- CAGECE — Portal institucional
- CASAN — RI (Relatórios e Ratings)
- COSANPA — Portal institucional



