Relatório CBSA 2025 revela como o saneamento via contêineres avança

O relatório Container-Based Sanitation: State of the Sector 2025 da CBSA apresenta uma visão atualizada e ambiciosa sobre soluções de saneamento baseadas em contêineres (CBS). A análise contida no documento revela como esse modelo cresce rapidamente, enfrenta desafios e oferece oportunidades reais para aplicação em contextos urbanos densos e informais. Este texto apresenta uma interpretação técnica, mas acessível, voltada para profissionais do saneamento, destacando os pontos mais relevantes para quem atua no setor.

Evolução e escala do saneamento por CBS

Desde 2019, o segmento de CBS registrou um crescimento de seis vezes em sua escala operacional. Em 2024, mais de 432 mil pessoas adquiriram acesso a serviços de saneamento por contêineres, em diferentes países e regiões.

Hoje, esse modelo de saneamento está presente em pelo menos 18 países, demonstrando que já ultrapassou a fase experimental e entra no campo das soluções reconhecidas.

Essa expansão é sustentada por três vetores principais:

  • disponibilidade de dados mais fortes de desempenho;
  • modelos público-privados inovadores que viabilizam o saneamento como serviço;
  • alinhamento com metas municipais de cobertura sanitária.

Vantagens do CBS no contexto do saneamento

Eficiência de custo e comparativos

Um estudo realizado em parceria com a EY desmistifica a ideia de que o CBS seria mais caro. Ele mostra que, em muitos casos, os modelos CBS custam entre 37 % e 83 % menos por domicílio do que sistemas de esgoto ou fossas sépticas, quando comparados de forma equitativa.

Em localidades de baixa renda, muitas vezes o custo do CBS supera as alternativas convencionais, especialmente se considerarem os investimentos iniciais para redes e infraestrutura pesada.

Resiliência climática e reduções de emissão

O modelo CBS oferece reduções expressivas de emissões de gases de efeito estufa quando comparado a fossas e tanques sépticos. O relatório relata, ainda, que os fornecedores de CBS já removeram mais de 25 mil toneladas de resíduos do ambiente em 2024, evitando contaminações e contribuindo para a qualidade ambiental.

Além disso, o modelo é mais adaptável a terrenos difíceis, áreas com alto lençol freático, locais sujeitos a enchentes ou solos rochosos — situações em que o saneamento convencional costuma encontrar obstáculos.

Qualidade do serviço e satisfação do usuário

Um estudo publicado na Nature Water analisou a prestação de serviço (coleta, troca, limpeza) nos sistemas CBS em assentamentos informais no Quênia, Peru e África do Sul. Ele revela que:

  • usuários de CBS relataram menos problemas e menos gravidade de falhas em comparação com latrinas, esgotos ou fossas;
  • variações na qualidade do serviço (como atrasos ou contêineres sujos) estão correlacionadas à queda na “qualidade de vida relacionada ao saneamento” (índice SanQoL-5);
  • particularmente, em regiões do Quênia, uma falha no serviço impacta mais fortemente essa qualidade percebida.

Esses achados confirmam que a boa operação do saneamento CBS é essencial para garantir aceitação, confiança e sustentabilidade.

Principais barreiras e desafios no saneamento CBS

Escala operacional e logística

Ampliar operações de CBS sem comprometer eficiência exige planejamento logístico robusto. Isso inclui roteirização, pontos de coleta, transporte até tratamento e manutenção de contêineres. O risco de custo crescente é real se a escala não for bem gerida.

Regulamentação e integração institucional

Em muitos países, o CBS ainda não é formalmente reconhecido nos marcos regulatórios de saneamento. Falta de normas, lacunas legais e ausência de políticas explícitas dificultam sua inserção plena nos sistemas municipais.

A coordenação entre agências de água, saúde, meio ambiente e assentamentos informais é crucial para que o CBS possa ser incorporado como opção legítima no portfólio de soluções de saneamento urbano.

Sustentabilidade financeira e modelo híbrido

Modelos puramente subsidiados são vulneráveis a cortes orçamentários. Por outro lado, modelos puramente tarifários podem excluir famílias de baixa renda. A sustentabilidade demanda abordagens híbridas, com subsídios estratégicos, receitas ambientais (ex: créditos de carbono) e taxas ajustadas. O relatório aponta que mecanismos de “pagamento por resultado” (outcome-based funding) já estão sendo usados para mitigar riscos e atrair investidores ao campo do saneamento CBS.

Interface com sistemas convencionais

Definir como o CBS pode coexistir com redes de esgoto ou sistemas de fossas — em particular transições ou zonas mistas — exige arquitetura institucional clara, critérios técnicos de interconexão e limites operacionais bem definidos.

Estratégias recomendadas para adoção no saneamento municipal

Para que o CBS possa ser adotado de forma madura e consistente, recomenda-se:

  • Reconhecimento formal no marco legal de saneamento — definir CBS como tecnologia reconhecida no portfólio municipal de soluções sanitárias.
  • Planejamento integrado de saneamento urbano — inserir o CBS nos planos de água, esgoto e drenagem, especialmente como estratégia de cobertura em áreas informais.
  • Modelos de financiamento inovador — uso de pagamento por resultados, fundos climáticos e monetização de créditos de carbono para viabilizar expansão do saneamento CBS.
  • Capacitação técnica local — treinar equipes operacionais em coleta, transporte, manutenção e tratamento adequado.
  • Monitoramento e métricas de desempenho — indicadores como cobertura, cumprimento de rotas, falhas operacionais e qualidade de serviço (SanQoL) devem orientar ajustes e garantir transparência.
  • Participação comunitária e sensibilização — envolver usuários no desenho dos serviços de saneamento, garantindo aceitação social e uso contínuo.
  • Parcerias estratégicas — estimular iniciativas público-privadas, ONGs, instituições de pesquisa e entidades internacionais para acelerar o avanço do saneamento CBS.

Conclusão

O relatório State of the Sector 2025 da CBSA confirma que o saneamento via contêineres (CBS) evoluiu de uma iniciativa marginal para uma alternativa sólida e escalável. Com vantagens de custo, flexibilidade operacional e resiliência climática, o CBS tem o potencial de preencher lacunas onde redes convencionais não chegam. No entanto, sua adoção ampla depende de esforços coordenados em regulação, modelo financeiro, capacitação técnica e aceitação social.

Profissionais do saneamento têm uma oportunidade ímpar de inserir o CBS em seus planejamentos, combinando inovação técnica com compromisso institucional. Essa abordagem pode acelerar o acesso a saneamento digno, justo e sustentável, especialmente em regiões urbanas vulneráveis.

Fontes