A fluoretação no tratamento de água é um dos temas mais debatidos dentro do setor de saneamento e saúde pública. Desde meados do século XX, a prática foi implementada como uma estratégia de prevenção em massa contra a cárie dentária, principalmente em regiões de baixa renda e com pouco acesso a serviços odontológicos. Entretanto, com a popularização de cremes dentais fluoretados e maior conscientização sobre higiene bucal, surgem questionamentos sobre a real necessidade dessa medida.
Benefícios sociais da fluoretação
Ao longo das décadas, diversos estudos comprovaram a redução significativa de cáries em comunidades que receberam água fluoretada. Esse impacto é mais perceptível em áreas vulneráveis, onde a população não tem acesso regular a dentistas ou a produtos de higiene bucal. Dessa forma, o tratamento de água com flúor foi considerado uma medida democrática de saúde pública, uma vez que beneficia indistintamente todos os consumidores.
Adicionalmente, organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Dental Association (ADA) mantêm a recomendação da fluoretação em níveis controlados. Segundo essas entidades, o equilíbrio adequado do flúor no tratamento de água continua sendo eficaz na prevenção de cáries sem oferecer riscos relevantes à saúde.
O risco da fluorose dentária
Apesar dos benefícios, é preciso destacar os efeitos adversos. A fluorose dentária é a consequência mais comum da ingestão excessiva de flúor durante a infância, podendo gerar manchas brancas ou amareladas nos dentes. Embora, na maioria das vezes, a condição seja estética e não comprometa a saúde bucal, casos mais severos podem causar fragilidade dentária.
Esse risco tem levado técnicos e gestores de tratamento de água a reavaliar a dosagem ideal de flúor, considerando fatores como clima (que influencia no consumo de água), hábitos alimentares e disponibilidade de outros produtos fluoretados. Em alguns países, esse debate levou inclusive à suspensão da prática.
Exemplos no Brasil e no mundo
No Brasil, a fluoretação do tratamento de água é obrigatória desde 1974, por meio da Lei Federal nº 6.050. Companhias estaduais como a SABESP (SP), EMBASA (BA) e COPASA (MG) seguem aplicando a medida, cobrindo milhões de habitantes. A adesão brasileira é vista como uma das mais amplas do mundo.
Em contrapartida, países como Alemanha, Suécia e Holanda aboliram a fluoretação direta no tratamento de água, justificando a decisão com base na ampla disponibilidade de cremes dentais fluoretados e em políticas de saúde pública voltadas para educação em higiene bucal. Já nos Estados Unidos, a prática é mantida em grande escala, alcançando mais de 70% da população abastecida por sistemas públicos de água.
O dilema para as companhias de saneamento
Para as empresas de saneamento, a discussão envolve aspectos técnicos, sociais e políticos. De um lado, a fluoretação é reconhecida como uma medida de baixo custo e alto impacto coletivo. De outro, há o desafio de dosar corretamente o elemento no processo de tratamento de água, evitando riscos de superexposição.
Além disso, cresce a pressão da sociedade por alternativas que priorizem a autonomia individual, transferindo a responsabilidade da prevenção da cárie para produtos como cremes dentais e enxaguantes bucais. Esse movimento obriga os gestores de tratamento de água a equilibrar evidências científicas, legislação vigente e expectativas sociais.
Perspectivas futuras
O futuro da fluoretação no tratamento de água dependerá da capacidade das companhias e órgãos reguladores de dialogarem com a sociedade, apresentando dados claros sobre riscos e benefícios. Tecnologias de monitoramento em tempo real da concentração de flúor e campanhas de educação em saúde podem ser caminhos para reduzir a polarização em torno do tema.
Assim, o setor de saneamento precisa avaliar continuamente os custos, os benefícios sociais e as tendências internacionais, garantindo que a população tenha acesso a um serviço seguro, eficiente e alinhado às melhores práticas globais.



